2º Capítulo
Continua no próximo capítulo
IV. AMOR A SEGUNDA VISTA.
Como todos os anos tem a sua modinha, 2013 não poderia ser diferente. Alguns
adotaram a modinha do Lek Lek Lek, outros curtem o Harlem Shake, e vejo que alguns
estão ouvindo cada vez mais Los Hermanos e reggae.
Em 2013 também eu farei 18 anos, mas, sei lá, sei que mesmo com a maioridade eu
sempre estarei agarrado à barra da saia da minha mãe, Karen Batista. Ela cobra que eu
estude, fica dizendo que quer um filho médico (odeio sangue) e que a sustente quando
estiver velha (\õ).
Começamos as aulas em Março. Uma rotina extensa de estudos e tão logo eu
estava sem tempo para nada. Na segunda semana de aula, entra uma garota nova na
sala e todos ficam boquiabertos, principalmente eu: “Rebeca” minha “ex-namorada”
acabava de entrar na nossa escola. Quer dizer, a dona da foto que eu usei para fazer o
fake. Eu estava morto.
Mas, se quiserem curtir com a minha cara e continuarem lendo, coloquem aquela
música do Hanson. Aquela “save me”, tema de n bailes de quinze anos no começo deste
século. Vai ficar mais interessante.
Eles esperavam que eu fosse falar com “Rebeca”. A garota, uma patricinha loira
dos olhos verdes, sentou-se em uma das carteiras, cruzou as pernas e começou a ler um
livro da saga Crepúsculo.
— Não vai falar com a Rebeca, Lucas? — perguntou Júnior.
— Depois que a gente terminou, ficamos de mal. — Menti. — estranho é ela ter
entrado na mesma escola que eu.
Estranho? Isso é uma tremenda de uma falta de sorte! De milhares de fotos naquele
maldito Google Imagens, eu tinha que pegar uma foto de uma garota que morava
próximo de mim e que ainda poderia estudar na minha escola?
— Cara, marca teu território! Diz que quem manda aqui é tu! — disse Ígor Cipriano,
um valentão que andava muito meu amigo ultimamente.
— Como assim?
— Lucas, tipo... Se ela tá aqui é por que com certeza ela quer te vigiar. Ex-namorada
tem dessas coisas, ainda mais namorada de tu, que é “o cara” ... Fala com ela. — Í gor
então me empurrou para cima da cadeira onde estava “Rebeca”. Bati a mão no livro
que ela estava lendo, e claro, a patricinha ficou furiosa.
Antes de qualquer cumprimento, um pedido de desculpas, entretanto eu não sei o
que ela tinha que me deixou sem palavras. E quanto mais eu tentava falar, mais eu não
conseguia. Era como se eu estivesse querendo sair do fundo de uma areia movediça.
— Oi? — disse ela.
A garota falou de uma forma (que parecia) amistosa. Eu me acalmei diante dela e
sorri. Era estranho estar diante daquela cuja eu namorei sem ela mesma saber. Quer dizer,
eu namorei a foto dela.
— Lucas, mostra a ela que quem manda aqui é tu! — incentivou Í gor Cipriano. Júnior
estava tentando se esconder colocando o rosto atrás do livro de química. Não me
perguntem por qual razão.
Nenhuma ideia se passava pela minha mente. A patricinha olhava para mim
esperando um sinal. Até que eu tive a “brilhante” ideia de pegá-la pelo braço e sair,
levando-a para fora da sala.
— Vem comigo.
— Que palhaçada é essa? — falava ela, enquanto eu a puxava para o pátio.
E chegamos ao pátio. A patricinha soltou-se bruscamente de mim e me deu uma
tapa no rosto.
— Au! Doeu...
— E é pra doer mesmo. Com que direito você me tira do meu lugar e sai me
arrastando por aí como se fosse o meu pai?
Como falar? Como explicar que tudo aquilo que eu havia feito era apenas para
evitar um mal entendido e, provavelmente, a minha ida à forca?
— VOCÊ NÃO ME CONHECE. E, POR FAVOR, NÃO FALA COMIGO. — gritou ela. Todos
já estavam reunidos em torno de nós. A garota então voltou para a sala.
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O preferível era tentar não dar nenhuma palavra e não dar ouvidos a nada e nem
a ninguém. Bem que o fofoqueiro do Júnior tentou arrancar alguma informação de mim,
assim como o Ígor. Eu estava irredutível quanto a palavras.
Dia longo aquele. Nem o intervalo havia chegado. Eu ainda não sabia o verdadeiro
nome de “Rebeca” e estava louco para saber. Tão louco quanto para que desse o horário
de saída. Vi que de vez enquanto “Rebeca” olhava para mim, e quando eu correspondia
olhando nos seus olhos, ela fingia estar escrevendo. Será que ela ainda estaria com
vontade de me esganar? Ora, já no primeiro dia de aula estava falada por todas as salas
e corredores... Se “Rebeca” soubesse o quanto ela era conhecida naquela escola...
O sinal para o intervalo tocou. A loirinha parecia ser estudiosa, o que era bem
estranho para uma patricinha (perdoem-me as patricinhas, é o meu ponto de vista
teórico). Ela levantou-se da carteira onde estava sentada e, sem querer, deixou cair um
livro minúsculo, que mais parecia um diário. Ela não percebeu e saiu da sala. Apanhei o
tal diário e coloquei de volta nas coisas dela. Eis daí que eu leio em seu caderno seu
verdadeiro nome: A tal patricinha se chamava Débora. Débora Zimmermann.
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Os dias foram se passando. Eu já estava acreditando que todos esqueceriam que
Rebeca, que na verdade se chamava Débora era minha namorada. Até que ela fez
algumas amizades, e claro, com algumas garotas as quais eu havia saído.
— Não acredito que você teve coragem de namorar o Lucas. Eu saí com ele uma
vez e ele beija super mal. — ouvi uma menina comentar com Débora.
— É verdade. Mas... Peraí... Você não se chamava Rebeca?
Débora deu uma olhadela para mim e depois voltou a falar com as duas garotas.
Discutiram bastante e mais baixo, cochichando em suas carteiras unidas, desrespeitando
o mapeamento de sala. Senti calafrios, taquicardias e até aquela famosa “dor desviada”
entre as costelas, de tanto pavor. Minhas pernas fixaram-se ao chão como se o cimento
que o compunha houvesse se transformado em fresco novamente e depois secado
rapidamente. Senti também algo quente descendo pelas minhas pernas. Quentinho. Xixi.
Xixi?
Dane-se o cimento que prendia minhas pernas. Abandonei a poça de mijo medroso
que ali formava e corri, corri, “chinelei”. Aquela mancha de molhado na minha calça
provava o quanto eu estava apavorado. E como. Débora havia descoberto o que eu fiz
com a sua foto. Todos descobririam que eu estava mentindo o tempo todo e assim ficando
com fama de mentiroso e mijão.
Saltei o portão da escola, como um criminoso foge do presídio. Olhem que já tive
muita vontade de fazer aquilo antes, mas não fazia por falta de motivação. Naquele
momento eu tive o impulso do medo.
Cheguei em casa, correndo, claro. Levei a metade do tempo que levo de costume.
Tranquei-me dentro do quarto e me escondi atrás do guarda-roupas. Tempo depois, meu
pai bateu na porta do quarto.
— Lucas. —ouvi-o.
Fiz de conta que estava dormindo. Com a porta do quarto trancada eu estava
seguro.
— Lucas! — papai persistiu. E quando ele quer uma coisa, ele consegue. Acabei
abrindo a porta e saindo da minha toca.
— Senhor?
— Tem uma moça lá fora querendo falar com você. Pelo visto a coisa é séria.