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Capítulo 11

Após mandar Maria Eduarda para o quarto, Clara pegou no braço da tia e falou:
- É fácil demais uma puta ir pra cama e fazer filhos. Mas é tão difícil levantar e tratar a filha direito?
- Me respeita Clara. Sou sua tia.
- Respeito? Por favor, Mariana. Você sabe que eu perdi a minha filha, que ela “morreu” e depois eu descobri que ela poderia estar viva. Sabia o que eu faria no seu lugar? Daria amor. Ela é uma criança. Emagrecer pra quê? Você ao menos se importa com ela? Você não é mãe dela. Ela é praticamente sozinha nesse mundo.
Após soltar o braço da vilã, Mariana argumenta o porquê daquilo:
- Eu quero que ela não sofra com a sociedade. Só isso. Deu pra entender?
- Sim. Mas a sociedade a criticaria muito melhor do que você, que do nada, diz ser mãe dela e a trata como uma coisa. Vem cá: Quer que eu cuide da menina? É só você me dar a guarda que eu dou tudo que ela precisa. Você vai ter a sorte de vê-la.
- Não precisa. – diz passando as mãos pelos cabelos
- Então você irá mudar a sua relação com a menina. Eu duvido que você não a ame. No fundo, você se sente no direito de chamá-la de filha. Já deu a minha hora. E lembre-se: Eu sou capaz de horrores para proteger uma criança. Não duvide.
Após Clara sai do apartamento, Mariana resmunga:
- Você me paga, criatura. – diz se referindo á menina
 
Alguns dias passaram-se rápido. Maria Eduarda já havia engordado e Mariana se preocupava com o que falariam dela.
Decidiu ser radical:
- Garota, para de comer. Você quer ser Adele ou Demi Lovato? Se você continuar morando aqui, vai comer pouco. Não pari uma baleia.
- Mas mãe...
- Não me chama de mãe, estrupício. Você só está aqui porque seu pai morreu. Se não, continuaria lá.
- Você é malvada.
- Bú! – grita maquiavelicamente
 
 
 
Na sala de aula, Pâmela mexia no seu computador. Estela pegou o celular e começou a acessar os aplicativos.
- Estela, não lhe dei permissão para mexer no celular. Guarde-o.
- Você também está usando o computador e mexendo no facebook.
- Menina, ponha em seu lugar. Guarde este aparelho e retorne a atividade.
- Pra quê? Eu já acabei.
- Então me mostre.
Estela mostrou as atividades, e estavam todas corretas. A aluna então colocou para tocar uma música: “Work Bitch – Britney Spears”
- Trabalhe vadia! Trabalhe vadia!
A professora, não entendendo o que a aluna estava a falar, a pegou pelo braço e a levou na diretoria, onde Clara pensava na sua filha.
- Me chama de vadia outra vez, chama! Garota mimada. – dizia a professora nervosa
- O que está acontecendo? Alguém pode me explicar?
- Essa garota me chamou de vadia.
- Não. Eu disse a tradução do título da música da Britney. Você que não é ligada nisso, entendeu tudo errado. – dizia Estela olhando para a professora
- Na minha sala você não entra mais.
E a discussão foi se estendendo até que o soou o alarme para a saída. Bianca deveria ir á faculdade no dia seguinte.
 
 
 
No outro dia, aproximadamente cinco horas da manhã, Eduarda estava saindo de casa com roupa de corrida: faria um caminho enorme em uma hora para perder peso rapidamente.
Passou-se das sete horas, e Marta estava preocupada com a sobrinha, enquanto Mariana assistia tranquilamente á televisão.
- Quer parar de se comportar feito uma criança? A sua filha não tá em casa.
- E você acha que eu me importo? Por mim, ela deveria explodir.
- Você mudou. Está agindo como um animal.
- Não começa Marta. Eu não fui feita pra ter filhos.
Em meio á discussão, Maria Eduarda abre a porta e entra.
- Duda! Onde você foi?
- Eu fui esfriar a cabeça. Tava pensando no meu pai.
- Com essas roupas, Maria Nojenta? Desembucha! Foi comer?
- Não mamãe...
- Já falei pra você não me chamar de mãe. É difícil você entender que eu quero que você exploda?
- Mariana, já chega. Duda vá à cozinha e coma alguma coisa.
Duda sai. Marta senta na frente de Mariana.
- É o seguinte. Se você continuar tratando a menina dessa maneira, você sai daqui e deixa-a comigo.
- Eu sou a mãe dela.
- Mãe? Ah, por favor, Mariana. Ninguém aqui é burro pra pensar que você ama a Duda. Eu sei que na época, você iria abortar, mas daí conheceu o Gustavo. E deixou a menina com ele.
- Eu não sei ser mãe.
- Mas precisa ficar tratando a menina feito um lixo? Eu ainda acho que alguém vai pedir a guarda dela. Criança dessa idade não fica calada muito tempo, ainda vindo da própria mãe.
- Se alguém a quiser, não me importo.
- Não vou discutir com você sobre isso. Mas fique claro. Você não vai mais tratar a menina dessa maneira. Pra quê tudo isso? Ela não teve culpa da sua irresponsabilidade, acorda pra vida!
 
 
Bianca está na cozinha, preparando o café. Estela chega á mesa já de uniforme.
- Mãe. Você tem que conversar com aquela diretora.
- Por quê?
- A professora me viu mexendo no celular e gritando “Trabalhe Vadia! Trabalhe Vadia!”, só que era a tradução da música da Britney.
- E você só me avisa hoje?
- Vamos mãe. Você tem que conversar com aquela mulher.
Bianca ficou insegura de repente.
 
 
No apartamento, Duda come exageradamente. Mariana chega á cozinha e percebe que Marta está no local.
- Duda, pare de comer. Eu já disse que não quero filha gorda. Vai colocar uniforme que você está atrasada.
Duda obedeceu a mãe,mas foi ao banheiro.  Ficou de joelhos, abriu a tampa do vaso e começou a jogar a comida para fora.
Ao fim, deu descarga e saiu aliviada.
Marta chegou á porta e viu a sobrinha.
- Duda? O que está fazendo no banheiro? Não devia estar se arrumando?
- Sim tia, é que eu passei mal. Mas está tudo bem.
- Tá mesmo?
- Claro. Com licença.
 
 
Na diretoria, Estela e Bianca estão sentadas á frente de Clara. A adolescente está ouvindo música, enquanto Bianca e Clara ficam caladas.
- Estela, você não gostaria de explicar pra nós o episódio desagradável de ontem?
- Não. – disse retirando os fones – Eu havia terminado a atividade e peguei o meu celular. A professora também estava nas redes sociais.
As duas conversaram até que Bianca pediu para Estela se retirar da sala. Clara estranhou.
- É agora – pensou – Clara, eu preciso falar algo que está preso dentro de mim há anos. Talvez você não me perdoe, mas eu não aguento mais a relação de você com a Estela como aluna e diretora.
- Acabamos de nos conhecer. Mas por quê?
Estela está ouvindo a conversa atrás da porta.
- Lembra há vinte anos? Que você pegava a Estela afirmando que ela era a sua filha?
- Claro que eu lembro. Eu não vi a minha filha depois do nascimento, mas eu sentia que ela era a minha filha. Não continuo entendendo. Por que você não aguenta a nossa relação?
- Por quê?- pergunta Bianca respirando fundo
- Sim.
- Porque você é a mãe da Estela, Clara.
A mulher fica pasma com a situação e Estela sai da universidade chorando. Ela não vê que um carro passa, e é atropelada violentamente.
- Mãe? Esse tempo inteiro que eu afirmava que era mãe dela você dizia que bebês eram todos iguais, que eu estava louca e que... Que eu não vi a minha filha, então não podia comprovar nada. Você tem noção do que eu passei pela sua mentira, Bianca? Eu pensei que a minha filha estava morta, e depois eu descobri que o corpo da criança não era compatível. Vagabunda! É isso que você é! Destruiu a minha vida! Transformou-a num inferno. Satisfeita? – grita dando voltas na sala
- Você tem que me entender. No mesmo dia que a Sophia nasceu eu descobri que não podia ter filhos. Esse era o meu maior desejo! Ser mãe. Daí eu encontrei o cesto com três bebês na beira do mar. Eu os levei para minha casa e escondi a Estela. Eu sentia que ela era a sua filha, mas...
- Te entender? Até agora eu não sei quem roubou os bebês do hospital. Por sua culpa eu sofri anos. A minha filha estava praticamente do meu lado. Então foi por isso que naquele dia você estava tão estranha. No lançamento do livro. Eu amamentei a minha filha, e você com medo, queria tirá-la dos meus braços? Acertei vadia?
- Desculpa, Bianca! Eu não sabia o que fazer.
- Eu queria te perdoar, Bianca. Mas eu não posso. Você escondeu da polícia um bebê, provavelmente adotou ilegalmente e ainda pede perdão? Eu só não te mato pois você fez a gentileza de criar a minha filha. Mas não fica sem isso.- diz pegando a mulher pelos cabelos
- Isso o quê?
Com toda a sua força, Clara bate em Bianca. Puxa seus cabelos, a joga na mesa e a empurra. Apenas alguns minutos de briga até Pâmela chegar invadindo a sala.
- Clara, a aluna Estela foi atropelada. O estado dela é grave.
- Viu o que você fez sua idiota? Se a minha filha morrer, quem é enterrada primeira é você ouviu bem?
Clara pega sua bolsa e vai ao hospital onde Pâmela dissera: Montenegro.
- O que aconteceu aqui? – perguntou Pâmela se aproximando da escritora
- A Estela lhe deu trabalho, não deu?
- Normal. Ontem eu estava nervosa e descontei nela. Desculpa causar essa enorme confusão. Por que você não vai ao hospital?
- Quem deve fazer isso é a mãe dela. A Clara.
- Eu não sabia que a Clara era mãe da Estela.
- Nem ela sabia. Na verdade, eu peguei a Estela e criei. A Clara estava próxima dela, e eu não falei nada. Agora, se a Estela estiver morta, não faz diferença. Já sei qual o meu caminho.
- E qual é?
- Você vai saber. Garanto-lhe – disse levantando do chão e saindo, deixando Pâmela perplexa.
 
Maria Eduarda está na lanchonete do colégio, comendo exageradamente. Luísa observa a aluna e vai até a mesa.
- Duda, não precisa comer tão rápido.
- Eu sei. Mas...
- Você se acha gorda? Saiba que não é. Você é uma menina linda!
- Acha mesmo? Minha mãe não gosta de mim.
- Então ela não é a sua mãe. Sua mãe será outra pessoa que você conhecerá com o tempo, acredite.
A professora abraça a aluna.
 
 
 
No hospital, Clara sentou-se na cadeira e observou o médico ajeitar o jaleco branco que utilizava.
- Clara, o estado da sua filha – a última palavra era mágica naquele momento para a mulher – é grave. Foi feita uma cirurgia e ela está em estado vegetativo. Não temos como saber quando ela irá acordar do coma.
- O que isto significa doutor?
- Que ela pode ficar dias, meses, anos ou até a vida inteira de coma. Parece não ter sido grave, mas foi.
- Ai meu deus...
 
 
E dada a notícia, o tempo se passou. Maria Eduarda escondia de todos o que sofria com a mãe, do modo como ela lhe tratava. Gabriela, meia irmã de Estela, conseguiu um emprego no hospital como enfermeira. Clara continuava todo o dia no hospital. Nesse exato momento, Clara arruma o vaso de flor, enquanto conversa com a filha:
- Quando você acordar, você terá uma enorme surpresa. Você vai ficar bem, eu prometo.
Clara fixa os olhos no rosto de Estela, que abre os olhos.
- Clara? O que você está fazendo aqui? Cadê a minha mãe? – pergunta enchendo a mulher de lágrimas
 

 

 

 

Continua no próximo capítulo 

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