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Capítulo 11

Continua no próximo capítulo 

XVI – SEI LÁ, SÓ MAIS UM CAPÍTULO
Ele apenas via as estrelas que estavam no céu formando um desenho. Parecia um 
lindo pássaro, que ia de encontro à lua, esplendorosa lua. 
Júnior estava completamente sem roupa, ainda deitado no chão. Ao seu lado, em 
situações não tão diferentes, a garota hippie, Zoe Navarro, tentava usar seu peito como 
travesseiro.
─ Velho, que viagem! ─ disse Zoe, se espreguiçando.
Júnior vestiu rapidamente suas roupas, e vermelho de vergonha, tentava se 
desculpar com Zoe por algo que nem ele mesmo lembrava se realmente havia 
acontecido.
Zoe, por sua vez, andava pelada naturalmente. Suas roupas foram vestindo seu 
corpo. Júnior não poderia evitar de prestar atenção. A garota não era uma top model, 
mas era linda do seu jeito, e meu amigo estava encantado com aquilo tudo.
(Música: The Kooks – Petulia)
─  É melhor a gente voltar pro acampamento,  cê  não acha?  ─  disse Júnior  ─  Sr. 
Bartolomeu e D. Irma devem estar preocupados.
Zoe sentou novamente naquele gramado e olhou para o céu. As pernas de Júnior 
estavam bambas. Há 48 horas ninguém diria a ele que em pouco tempo ele estaria tão, 
sei lá, “vida louca”, ainda ao lado de uma garota que mal conhecia.
─ Senta aqui, velho. Olha ali as estrelas.
─  O que tem elas?  ─  perguntou  o rapaz, sentando-se ao lado de Zoe. Ela tomou 
sua mão e ficou segurando. 
─  Somos feitos delas.  Não sabia? Carbono, vindo de hidrogênio, hélio  lá do Sol ... 
papo de nerd, muita viagem. Viagem mesmo, cara!
─  Meu amigo Lucas  é que iria se amarrar nesse papo, Zoe.  ─  falou o  “garoto do 
fundão”, só que não. ─ Mas porque você tá me falando isso?
─ Porque eu te admiro pra caralho. Admiro pela sua convicção em ser livre, velho. 
É isso. Você prova que é uma estrela. Livre... ─ os olhos dela brilharam. 
Júnior tirou da carteira sua lista de sonhos e mostrou à Zoe, que ficou encantada 
com os itens.
─ Você tem muita sorte e é muito corajoso, Júnior. É por isso que eu te amo.
O rapaz se assustou. A mão de Zoe apertou ainda mais a sua.
─ Como assim?
─  Não acredita que o destino nos atraiu um ao outro? Não aquele destino das 
músicas sertanejas, mas aquele...  aquele mais forte que aquilo que alguns chamam de 
“química”. Se nós fossemos só mais duas pessoas distintas no mundo, nunca teríamos nos 
conhecidos e rolado o que rolou.
Júnior aproximou seus lábios aos de Zoe. Não sabia o que realmente havia 
acontecido enquanto estavam sob o efeito dos cogumelos, mas fosse como fosse, faria 
como se estivessem se tocando pela primeira vez.

Aquele dia era o de seis aulas, e todos saíram da escola exaustos de tanta 
informação recebida.  Muitos fugiram entre as trocas de professores e acabava que no 
final, na última aula, só estavam os interessados ou os que não conseguiam escapar.
─  Débora, porque você não fala mais comigo? Sei lá, achei que depois daquele 
episódio no seu aniversário...
─  Por favor, não me lembra mais daquilo. ─  disse ela, interrompendo-me, enquanto 
caminhávamos em direção ao portão de saída.
Chegamos à rua, e a patricinha continuava achando que eu estava a seguindo. 
Tudo estava escuro e íamos sozinhos até o ponto de ônibus.
─ Vai de ônibus? Cadê a Ferrari do papai? ─ brinquei.
─ Não enche, Lucas. Acha que é perigoso andar de ônibus a essa hora?
O ônibus que Débora poderia pegar passou, mas ela não deu sinal devido ao 
grande número de passageiros que vinham dentro daquela lata de sardinha com rodas.
─ Não, não. Muito lotado. ─ disse ela, fazendo cara feia.
─  Débora, tipo... se você quiser pegar ônibus vago é melhor voltar pra escola e 
esperar a aula de amanhã. Todo mundo sabe que aqui só passa condução lotado.  
─ Muito obrigada pela preocupação Lucas, mas eu vou esperar assim mesmo.
Minha lata de sardinhas ambulante chegou e eu entrei. Débora continuava 
esperando um milagre para chegar em casa.



(Música: Jake Bugg – Slide)
Como sempre, os pais de Débora estavam brigando. Já eram quase nove da noite 
–  três horas depois do horário de saída da escola  ─  e parecia que nenhum dos dois 
estavam preocupados coma filha.
Débora subiu as escadas da sua casa e foi até o quarto. Sua cabeça parecia que 
iria explodir de tanta dor. Tirou a camisa da escola e olhou -se no espelho: percebera que 
suas costelas apareciam cada vez mais nitidamente. Estava definhando, e nada podia 
fazer. Mais uma vez dormira com os gritos das brigas dos pais.



Já era manhã e, bem cedo, Júnior acordara com Irma Navarro gritando junto a 
Bartolomeu, seu marido. Zoe também estava sorrindo. Parecia uma comemoração.
─  É hora da gente ir, meu amor. ─  disse Irma, beijando o rosto do marido. ─  olhe, 
os musgos estão cobrindo as pedras para o lado do sul, assim como o vento que está 
levando as folhas das árvores também para o sul.
─ O que isso quer dizer mesmo, mamãe? ─ perguntou Zoe.
─ É hora de nós voltarmos para casa! ─ ela abraçou o marido e a filha. ─ E você, 
Júnior. Vai vir conosco?
─ Você quer conhecer o Japão não é? ─ perguntou Zoe.
─ Sim, mas o que tem isso a ver?
─  Onde nós moramos há vários japoneses.  Quem sabe eles possam te ajudar a 
realizar seu sonho? ─ ela se virou para os pais ─ Ele pode vir, não é?
XVI – EU ESTAVA AQUI O TEMPO TODO E SÓ VOCÊ NÃO VIU
(Música: Transmissor – Bonina)
Um mês havia se passado. Faltavam poucas semanas para as férias de julho 
(venham, eu quero lhes usar) e eu as aproveitaria o máximo que podia. Nada de estudos, 
pois já estava me dedicando enquanto era tempo de aulas. 
Dona Ruth, desde o dia em que voltara atrás com o falso luto, parecia estar vivendo 
um luto verdadeiro. Tipo, ela usava preto e usava óculos escuros vinte e quatro horas por 
dia para disfarçar os olhos fundos de tanto chorar. 
Arizinho, que não deixava passar uma, ficava tirando sarro da diretora:
─ Eita, D. Ruth. Tá na fossa né? Sei por que, perdeu aquele surfista sarado, lindo feat 
perfeito... Até eu ficaria assim. 
Por dizer isso, Arizinho só iria assistir aula agora em agosto. Pegara algumas semanas 
de suspensão.
Débora também estava muito estranha.  A garota estava cada vez mais magra, e 
eu via que ela precisava de ajuda. Recusava não só a minha presença, como a de 
qualquer outro cidadão que se aproximasse dela, ainda muito chateada com o que havia 
acontecido em seu aniversário. 
Era aula de física, e o professor, chato por sinal, estava dando alguns conceitos 
sobre eletromagnetismo. Ele não admitia, por nada desse mundo, que qualquer aluno 
saísse no meio de sua aula para ir até o banheiro ou beber água.
─ Professor ─ disse Débora, levantando a mão ─ Posso ir ao banheiro?
─ Agora, senhorita Zimmermann? ─ aquele professor falava desse jeitinho mesmo, 
chamava-nos pelo sobrenome  ─  Estou no meio de uma  explicação muito importante. 
Aguarde o sinal do intervalo.
A garota estava explicitamente passando mal. Maldito professor. Ela abaixou a 
cabeça  e tentou se acalmar, ficou encostando a testa no braço da cadeira, fazendo 
rabiscos em sua calça jeans. Parecia uma eternidade. Interrompi a aula, gritando:
─ Professor, o senhor não está vendo que a menina está passando mal e precisa ir 
até o banheiro? 
O físico bufou, olhou para Débora e permitiu que ela fosse. Ao passar por mim,  ela 
agradeceu:
─ Obrigada mesmo.
 

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