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Capítulo 12

Continua no próximo capítulo 

(Música: Agridoce – 130 anos)

Um casal de japoneses embarcaria naquele dia, levando Júnior consigo. Haviam conseguido toda a documentação e estavam prontos para sair do país.

─ Eu vou sentir muito a sua falta, Júnior. ─ dizia Zoe Navarro, chorando.

D. Irma e Sr. Bartolomeu fariam uma surpresa para a filha segundos depois:

─ Porque sentirá falta do Júnior, filha?

─ Nós sentiremos sua falta. ─ Bartolomeu entregou um passaporte e duas passagens para Zoe. A garota sorriu e deu uma braço nos pais, rodopiando.

Horas depois, Zoe, Júnior, e o casal de japoneses entravam no avião em direção ao Japão.

─ Eu vou te acompanhar, meu amor. ─ dizia Zoe Navarro ─ pra onde você for. Seja para onde for.

Eles se beijaram; o avião, decolou.

 

(Música: Marcelo Camelo e Mallu Magalhães – Janta)

─ Vai voltar de ônibus hoje também? ─ perguntei.

Débora estava na parada de ônibus, e não era perseguição, apenas eu precisava pegar meu busão ali.

─ Obrigada por ter feito aquilo por mim na aula de física ─ disse ela.

─ Pelo jeito a coisa foi séria. Cê tá bem mesmo? Não quer que eu te acompanhe até em casa?

─ Não te dei essas ousadias todas. ─ ela olhou para a avenida, precisamente para o lado onde os ônibus vinham. ─ Só quis ser educado.

─ Desculpa... enxerido.─ De boa.

O ônibus de Débora chegou primeiro que o meu. Ela levantou-se do local onde estava sentada, e ao tentar dar sinal, sentiu-se tonta e só não caiu porque eu a segurei (sou foda). Brincadeiras à parte, percebi que a garota estava tão gelada quanto a sopa que serviam na cantina da escola. Preocupei-me e, como eu já sabia onde ela morava, levei-a até em casa. Quer dizer, acompanhei-a no ônibus, mesmo ela insistindo por teimosia que estava bem e de que não precisava da minha ajuda.

 

A casa de Débis estava menos aterrorizante do que no dia do seu aniversário. Apoiada com o braço direito em meus ombros, ela queixava-se de dor de cabeça. Toquei a campainha, e Sra. Zimmermann atendeu.

─ O que esse menino insolente está fazendo com a minha Débora?

─ Só vim trazê-la até aqui. Sua filha está passando muito mal.

A madame parecia não ligar para o estado de saúde da filha. A garota, por sua vez, usou das últimas forças que tinha para subir as escadas e ir até o seu quarto. Fiquei do lado de fora e ganhei uma porta na cara. Débora se trancou no banheiro, tirou a roupa, ficando apenas de calcinha e sutiã. Olhou-se no espelho, como fazia todas as noites. Estava fraca, e apoiava seu corpo na pia. Notou que um fio de sangue descia pelo seu nariz. Lavou rapidamente.

─ Filha, está bem? ─ escutou seu pai perguntar do outro lado da porta. ─ Eu... eu tô legal! ─ mentiu, com dificuldade para falar.

Ar faltou em seus pulmões de repente. Estava cada vez mais difícil permanecer em pé. Desmaiou.

 

(Música: Marcelo Camelo e Mallu Magalhães – Janta)

Horas depois, um espelho estava sendo quebrado no meu quarto. Mais precisamente, jogado no chão. O que são sete anos de azar quando se tem uma vida amorosa tão infeliz quanto a minha?

─ Porra! ─ gritei ─ Por que ela finge que eu não existo? E por que eu não faço o mesmo com ela? Comecei a chorar. Sentei-me na cama, e olhei para o monitor do computador. Acreditem ou não, mas eu estava tão louco por ela que o papel de parede era a própria foto da Débora.

─ Já sei. É porque eu gosto de sofrer. DE SOFRER! ─ chorei. Chorei muito, desligando o computador.

Abracei meu travesseiro e com ele chorei a noite toda. Eu precisava acordar para a vida esquecer aquela garota, os problemas dela, e focar nos meus estudos e no vestibular. Mas era impossível. Quase impossível.

 

Acharam Débora desmaiada no banheiro muito tempo depois. Seu pai, acho que o único com juízo naquela casa, ficou preocupado com tamanha demora da filha.

Deitada na cama ela estava agora. Sua mãe, super preocupada com o limite do cartão de crédito, xingava uma atendente pelo telefone.

─ Eu já chamei o médico, filha. Pedi para que a nossa cozinheira fizesse uma sopa bem forte. Nossa, que pai eu sou? ─ Sr. Zimmermann passou a mão nos cabelos da filha, que ainda estava gelada e com muita dor de cabeça. ─ Nunca mais eu vou deixar as coisas chegarem a esse ponto. 

─ Acho... acho que não vai precisar. ─ fraca, a menina desmaiou novamente.

─ Amor! Amor! Eliana! A nossa filha tá muito mal! Solta esse celular e me ajuda! Eu não vou esperar o Dr. Fabrício! Eu a levarei até o hospital. ─ gritou ele, desesperado, e levando Débora nos braços.

 

XVII– PARECE QUE TUDO ESTÁ PERDIDO

O médico plantonista pediu que Débora fizesse um hemograma e que ficasse internada no hospital por tempo indeterminado. A menina tomava soro pela veia enquanto seu pai tentava tomar o celular e o cartão de crédito da mão daquela compradora compulsiva que era sua esposa.

─ Dá pra você ser mãe pelo menos por vinte e quatro horas? ─ os dois brigavam no corredor do hospital.

─ Se você tivesse pago os cartões, eu estaria desocupada.

─ Eu os cancelei. Todos! Não temos mais dinheiro para gastar com besteiras desnecessárias. Eu já havia lhe avisado!

─ Leonardo Zimmermann, eu lhe juro que pego minhas coisas e vou embora de casa!

─ Vá, Eliana. Vá mesmo. Será melhor para a Débora. Agora eu preciso ir em casa buscar algumas roupas para ela. Afinal, até sabermos o que ela tem, ficará internada. E mil desculpas se o estado de saúde da sua filha não te interessa! ─ ironizou.

Sr. Zimmermann deu um pequeno empurrão na esposa para que ela saísse da frente e foi em direção ao estacionamento do hospital. Sem mais o que fazer, Eliana Zimmermann o seguiu.

─ Espere! Espere! Temos muito o que conversar! ─ disse ela, correndo atrás do marido.

 

Os pais de Débora, ainda discutindo muito, fizeram uma pequena mala com algumas roupas para melhorar a estadia da filha no hospital cujo estava internada. Leonardo Zimmermann pegou as chaves do carro e foi até a garagem. Eliana tentava falar sobre o futuro divórcio.

─ Então você quer se separar mesmo? Quer dizer que você não me ama mais? ─Eliana estava em frente à porta do carro, impedindo que o marido entrasse.

─ Você não me ama mais, Eliana. Você ama os meus cartões de crédito. E agora eu não os tenho mais. Quer me dar licença? Minha filha precisa de um pai.

Leonardo entrou no carro e a esposa, em seguida, entrou e sentou-se no banco de passageiros.

─ Esta conversa ainda não terminou, Leonardo.

─ Você, Eliana, está doente e precisa de tratamento.

 

Eu nunca tinha chorado tanto, e ainda por aquele motivo tão torpe. Dizem que sempre chove quando uma tragédia acontece. Sendo assim, porque não chovia sempre? Eu sou um desastre como homem, pensei, encostando a cabeça na janela do quarto e vendo a água escorrer pelo vidro.

 

O carro do casal Zimmermann seguia deslizando na pista molhada em direção ao hospital. Leonardo Zimmermann ouvia as lamentações da esposa enquanto dirigia, tentando não surtar de vez. Trovejava, chovia forte, porém o pai de Débora precisava ficar com a filha naquela noite.

─ Pois é Leonardo. Você pensa que foi fácil ter que conviver com você esses anos todos, te servindo, te dando tudo o que você queria em suas mãos? Ah, me poupe, Leonardo. Você só quer estar com a razão e...

─ CALA A BOCA, ELIANA! JÁ CHEGA! JÁ CHEGA! ─ gritou ele, desviando de uma moto que estava bem a sua frente. À propósito, quase que o pai de Débora batia seu carro no motociclista.

─ Você gritou comigo, Leonardo? Pois fique sabendo que nem o meu pai me mandou calar a boca. Isso é um absurdo. Pare este carro, largue este volante e me peça desculpas.

Tal absurdo quase fez com que Leonardo Zimmermann risse. Todavia, ele apenas fingiu que não ouviu e continuou dirigindo, lutando contra a tempestade. Eliana, por sua vez, posicionou-se na frente do marido, impedindo com que ele pudesse ver a estrada.

─ Sai da frente, sua louca!

─ Você me deve desculpas, Leonardo. Eu não sou nenhuma cachorra para ser tratada deste jeito.

Eliana só calou a boca quando, por azar, um caminhão vindo na contramão bateu no veículo onde ela e o marido estavam.

Foi fatal.

 

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