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Capítulo 13

Continua no próximo capítulo 

XVIII – FORA DE ÓRBITA

(Música: Jake Bugg – Slide)

Sentia-se um pouco melhor. Estava sob os melhores cuidados naquele hospital. Débora abriu os olhos aos poucos e, também aos poucos, conseguia enxergar um homem completamente vestido de branco à sua frente. Tratava-se do médico que estava cuidando do seu caso.

─ Sente-se melhor, hein mocinha? ─ ele tentou ser gentil, mas Débora percebera logo que ele estava preocupado com alguma coisa.

─ Onde está o meu pai. ─ Débora perguntou. Houve um silêncio momentâneo da parte do médico. Ele abaixou a cabeça por poucos segundos e resolveu contar logo toda a verdade.─ Você está me deixando assustada! Eu não gosto desse tipo de brincadeiras! Ontem eles estavam aqui, brigando como sempre e...─ Ontem, Senhorita Zimmermann, seus pais foram até sua casa, buscar umas roupas suas para que você ficasse aqui mais confortável. Chovia bastante, seu pai dirigia em alta velocidade naquela pista molhada, e como eles já vinham discutindo muito desde a hora que saíram daqui, suspeita-se de que eles tenham se desentendido. Foi fatal, Débora. Seus pais não resistiram...─ NÃO! EU VOU EMBORA DESSE HOSPITAL! VOCÊS MENTEM PARA UMA PESSOA DOENTE, ISSO NÃO É JUSTO! MENTIR PRA MIM NÃO VAI ME CURAR!Débora se levantou do leito onde estava e arrancou rapidamente o soro que estava ligado na sua veia. Mesmo vestida com aquela batinha de paciente de hospital, ela não ligou, correndo pelos corredores do lugar e procurando por Leonardo e Eliana.─ Pai! Mãe! PAI!A garota chorava muito, queria pedir ajuda para alguém, mas não sabia a quem. Aqueles rostos olhavam para ela com pena; Débora não queria pena, não queria piedade. Queria apenas seus pais. Seus pais, mesmo brigando, mesmo discutindo e não dando a atenção devida a ela. Ela só pediu a Deus que estivesse sonhando, ou que mentir tão horrivelmente para um paciente fosse apenas um método para o tratamento de sua doença. Que doença? A menina não queria saber. Débora queria seus pais! Queria abraça-los, como todos os dias ela desejava, mas não o fazia. Ela os queria de volta, perto dela, mesmo aos gritos, por dinheiro, por desentendimentos torpes, clichês de casais. Apenas seus pais!“Foi fatal, Débora. Seus pais não resistiram...” O som da fala do médico ecoava pela sua mente. Débora reunia todas as suas forças para que suas pernas a levassem para o fim daquele corredor de hospital, daquela casa dos horrores. Estava perto da saída. Os enfermeiros a perseguiam com seringas, para sedá-la como se fosse algum animal selvagem. Faltou-lhe forças, e aquilo estava se tornando tão chato para ela que ela cedeu. Cedeu e caiu no chão como se estivesse se entregando para alguma força sobrenatural. Queria morrer então e “que eu morra!”, pensava, enquanto sentia aquelafria agulha perfurar mais uma de suas veias. Estava adormecendo de novo.დUM MÊS DEPOISTOKYO – JAPÃO(Música: The Kooks – Petulia)─ Já pode riscar mais um item da sua lista de sonhos, não é Júnior?Júnior Dantas e Zoe Navarro estavam no Japão há pelo menos um mês. Era difícil se adaptar a um país completamente diferente do seus, ainda mais em tão pouco tempo. Porém, uma língua diferente, assim como costumes que, para eles, eram bizarros, fazia com que eles quisessem explorar mais e mais aquele maravilhoso país. Júnior e Zoe tinham algo em comum: o sonho de ser livre, explorar o mundo, novos gostos, costumes, línguas, comidas, tudo o que não os prendessem a uma rotina chata e complicada.Mais um sonho de Júnior poderia ser riscado de sua lista. Saltar de bungee jumping era de uma adrenalina, de um prazer inexplicável. Foi uma sensação que Júnior não tinha adjetivos para descrever. De início ele ficou com medo, porém, como no dia em que ele saltara de asa-delta, foi passageiro.─ Eu não sei como esse negócio de pular de tão alto poderia ser um dos teus sonhos, velho. ─ concluiu Zoe, enquanto eles tomavam uma espécie de sopa cheia de macarrão e frutos do mar num restaurante de Tokyo.─ Eu gosto. Sempre gostei dessas coisas radicais. Agora eu posso praticar.─ Júnior... você não sente falta da sua casa? Eu tenho saudades dos meus pais. ─ É claro que eu sinto. Já pensei em ligar pra casa, falar com a minha mãe, minha avó, minhas irmãs, mas sei que quando ouvir quaisquer uma delas eu vou desabar em choro e vou querer voltar pra casa.─ Elas sofrem por você estar longe de casa. Claro, eu não preciso ser nenhuma vidente pra saber disso. Você não tem ao menos algum amigo?─ Eu tenho. O Lucas, ele é meu melhor amigo. Eu penso em falar com ele, Zoe.─ Então, Júnior. Tenta ver se ele está na internet. Quando voltarmos para a casa dos japoneses a gente tenta, ok? Vamos pedir para que ele leve notícias suas para a sua família. Eu sei que você está triste por causa disso.Júnior sorriu, deu um selinho na namorada. Ambos voltaram a comer.დQuem via Débora Zimmermann presa naquele quarto branco sem conhece-la mesmo há poucos dias, não diria que ela já fora tão sóbria e mais alegre do que estava agora.Chorava muito. Culpava-se pela morte dos pais e por não ter ido ao velório dos dois. Ousou não querer saber qual era sua doença e não queria tratamento, mesmo com Dr. Tavares (médico que cuidava do seu caso) insistindo para que ela aceitasse o atendimento médico gratuito que ele mesmo lhe ofereceria. Gratuito pois, como nós sabemos, Leonardo Zimmermann estava falindo, e para Débora, que já era maior de idade, só restavam dívidas.Os seus poucos parentes, distantes, fecharam-lhe a porta de casa. A menina estava sozinha no mundo. Tinha dezoito, mas ainda era frágil como as bonecas de porcelana que mantinha no quarto. Quarto aquele que ficar-lhe-ia nas lembranças, pois não quis voltar para lá, nem quando ficasse boa psicologicamente.Eu fui visitá-la. Meu sentimento falou mais alto que o orgulho. Cheguei ao hospital, e Dr. Tavares, um médico oncologista, baixinho de cabelo branco, observava Débora do vidro da porta de um quarto branco, onde a garota, um pouco grogue, ainda com sono por causa dos sedativos, olhava fixamente para o nada.─ Meu nome é Lucas Batista. Eu sou... ─ hesitei ─ amigo da Débora. Soube que ela está sofrendo muito, afinal os pais dela morreram tão drasticamente...O médico parecia olhar para mim por cima das lentes do par de óculos.─ O que aconteceu com ela? O que ela tem, doutor?Parecia que ele iria permanecer em silêncio, mas ele falou:─ Débora é um caso muito sério. Não podemos obriga-la a nada, ela já é maior de idade. Mas ela se recusa a receber tratamento médico que eu lhe ofereci gratuitamente. Sua doença é muito séria. Para a garota, parece que ela não quer mais viver a vida. É muito triste. ─ Que doença é essa que ela tem?─ Débora tem leucemia. Se não receber tratamento o mais rápido possível, pode ser tarde demais.Aquilo tudo foi um choque para mim.14° CAPÍTULO (ÚLTIMOS

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