Capítulo 3
Continua no próximo capítulo
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E a partir daí aquela velha canção do Hanson deve tocar novamente, só pra fazer
bonito. Tipo nas novelas, quando o mocinho encontra a mocinha por acaso, sei lá,
esbarrando com ela por aí, ou ela derramando café na roupa dele aí o tema romântico
começa a tocar. Eu acho que estava gostando mesmo dela. Ah, minha cabeça! Vou
parar de enrolar e vou contar o que aconteceu.
Sim, era ela quem estava na porta, Rebeca... Ops, Débora. A garota estava
acompanhada de um senhor que parecia ter, sei lá, uns dois metros de altura por dois de
largura. Seu pai, Leonardo Zimmermann.
— Foi ele pai! Foi ele quem pegou minha foto e me fez ficar falada na escola! —
Débora esperneou, apontando para mim. Na verdade, eu mal reparei no que ela disse,
pois estava encantado com sua beleza. (¬¬)
O simpático senhor de dois metros de altura por dois de largura largou sua simpatia
a me ver. Aproximou-se de mim, e eu, rodeei com o olhar a sala, em busca do meu pai
ou da minha mãe, mas eles estavam longe para que eu pudesse correr. E quando eu
penso que o pai da garota iria tentar algo contra mim, ele leva a mão até o nariz, e diz,
tapando-o.
— Minha Nossa Senhora, cara! Como tu tá fedendo!
Sim, desde aquela hora eu estava com a roupa que mijei. E claro, aproveitei o
chilique espontâneo do pai de Débora para sair dali o mais rápido possível.
—Papai! Você não vai fazer nada?! — E ela dizia, chorava. Mamãe só sabia rir, e
meu pai estava com uma cara de quem não estava entendendo nada.
Mamãe, rindo ainda, pediu que eu fosse tomar um banho, mas um banho mesmo,
garantindo que ela e o papai resolveriam aquilo. Tomei o banho e corri até o meu quarto,
onde tentei dormir. Sabe-se lá Deus o que aqueles dois malucos disseram para os meus
pais.
Sonhei com Débora. Algo como se fossem as suas fotos que eu peguei no Google
em sépia, num vídeo feito no Movie Maker e com, claro, Save Me como música de fundo.
V – UMA DOR PIOR DO QUE A DE DENTE.
Quando eu não quero ir à escola, sempre finjo estar doente. Dessa vez inventei que
estava com dor de dente. Fiz bonito, colocando a mão no rosto, na região do queixal e
me revirando no chão.
Mamãe não gosta muito que eu falte aula; papai, não está nem aí. Ainda estranhos
comigo devido ao que aconteceu no dia anterior, mudaram sua faceta completamente
quando me viram fingindo estar com muita dor, e, claro, jogado no chão.
— Lucas do céu! O que está havendo, meu filho? — perguntou minha mãe.
Olhei para ela com um olhar de peixe morto e respondi que estava com dor de
dente. Ela, exagerada, praticamente ordenou ao meu pai que faltasse ao trabalho para
que me levasse ao dentista. Dentista? Escolhi a dor errada.
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Fiquei calado o caminho todo, e com menos exagero, continuava fingindo dor. Eu
iria ao dentista, meu pior pesadelo, mas não iria para a escola encontrar Débora e aquele
bando de moscas que se dizem meus colegas.
— Lucas Batista? — disse a secretária na sala de esperas do consultório.
Eu fingi não escutar. Fingi estar altamente concentrado naquele catálogo de filmes
do ano passado que achei no meio das revistas de fofocas de novelas.
— Lucas, sua vez. — disse meu pai, Ricardo Batista.
— Acho que não, viu pai... É outro Lucas. A gente chegou agora. Essas coisas
demoram.
— Lucas Batista! — repetiu a secretária.
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Os instrumentos de tortura estavam todos ali, a disposição do dentista, para fazer
com que qualquer marmanjo fizesse xixi nas calças de tanto medo (não que eu vá fazer
de novo, mas é uma ideia).
— Pode se deitar aí. — disse o Dr. Eduardo Albuquerque, amigo do meu pai desde
o dia em que ele arrancou o seu primeiro dente.
Como eu não estava com vontade de fazer xixi, o jeito foi se deitar. Não sabia bem
aonde tudo isso iria parar, mas a verdade eu não contaria.
— Pode me contar o que você está sentindo? Qual é o dente que está te
incomodando? — perguntou.
— É esse aqui... — apontei para um dente qualquer (adeus, dentinho).
— Mas sua dor não era do outro lado, Lucas?
De fato, papai tinha razão. Mais cedo, quando eu estava fingindo, minha mão
estava posicionada em outro lugar do meu rosto para demonstrar dor. Boa memória,
ponto para Ricardo Batista!
Dr. Eduardo veio com uma seringa enorme, instrumento cujo eu sinto mais medo. Ele
empurrou o embolo uma vez, e a anestesia, um líquido azul que mais parecia uma poção
de bruxaria, teve um pouco de seu conteúdo abandonado no ar, e logo após molhando
o chão branco do consultório. Eles sempre dizem que a agulhada não dói. Para quem
tem medo, não. Para mim, sim.
E enquanto o dentista esperava a anestesia fazer efeito, minha bocava ficava torta
e dormente. Papai mexia no celular atentamente.
Dr. Eduardo então pegou o segundo instrumento de tortura. Aquela maquininha
que mais parece ter um parafuso na sua ponta, que roda e faz um barulho horrível. Eu vi
minha vida toda passar. Meu dente seria furado por nada! Se eu deixasse...
— Não! — gritei. — Já estou melhor. Por favor, pai. Me leva daqui!
Sorri para o meu pai, que já estava entendendo tudo. Ainda era cedo, mais
precisamente dez da manhã. Cedo demais para contar a verdade e faltar aula pelo
menos aquele dia.
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Faltando exatamente vinte minutos para uma da tarde, papai me deixou de carro
em frente à escola. Fui o primeiro a chegar e o portão ainda não havia sido aberto. Minha
boca continuava torta por causa da anestesia.
— E senhor Lucas, não adianta choramingar, mijar nas calças ou cavar um buraco
no chão. Vou ligar para a escola e pedir para que não tirem os olhos de você.
Depois disso, meu pai deu partida no carro e saiu. Furioso.
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O portão da escola abre exatamente à uma da tarde, mas a galera mesmo só
chega meia hora depois, pois sabem que todos os professores atrasam. Apenas os mais
nerds chegam cedo, por causa da neura deles de sempre quererem guardar seus lugares
na primeira fileira. Como dizem as patricinhas: hello! Tem mapeamento em todas as salas!
Por falar em patricinha, me lembrei da Débora. Sabia que naquele dia sua simpatia
não estaria das melhores, por isso, como não poderia fugir da senzala escola, resolvi ficar
escondido na cantina, puxando papo com o pipoqueiro e longe da vista das
coordenadoras.