Capítulo 5
Continua no próximo capítulo
Estudando eu não via a hora passar. Sim, eu estava bem concentrado. Às vezes
uma recaída. Uma mosca passando na sua frente pode ser super interessante quando se
está tentando entender as leis de ohm.
Enfim, vi que eram sete da noite, hora marcada para o início das comemorações
dos dezoito anos de Débora. Fui até a calçada da minha casa e ouvi o pancadão do
funk grátis no tal do “Point da Bagaça”. Algumas meninas da minha sala, convidadas da
festa da Débora, estavam indo em direção à boate, e não à casa da aniversariante. Algo
me dizia que uma boa fração dos seus convidados estariam “ralando a tcheca no chão”.
Quiçá, todos eles. Todos.
Pode-se dizer que sou humano. Tenho pena. Peninha. E sinto amor, paixão, vontade
de estar perto. Perto dela: Débora. Ela que me repudia, que me amaldiçoa, que me
odeia... e que eu a amo.
Com certeza ela ficaria arrasada quando desse a hora de cantar os parabéns e
ninguém estivesse lá, perto dela, para prestigiar com muita falsidade a sua maioridade.
Todos que fossem (se fossem) estariam bêbados depois de dançar horas de sertanejo
universitário. Eu pensei em tudo, e depois resolvi dar a cara a tapa e ir até a casa dela. Só
pra conferir.
დ
(Música: Transmissor – Bonina)
Pus os pés de novo para fora de casa. Pouca grana no bolso, carteirinha de
estudante pra pagar meia passagem. Só não sabia onde Débora morava. Peguei o
primeiro ônibus que passasse no bairro mais rico da cidade e fui-me embora.
Nossa, que surreal, que coisa de web novela de quinta eu sair, pegar um ônibus e ir
para um lugar que nem eu sabia onde era, com a certeza de que iria chegar. Aqui, não,
violão. Fique sabendo que eu “penei” pra chegar na casa da Débis.
Tipo, só encostaram uma faca no meu abdômen e levaram o meu celular, mas eu
estava com tanta pressa em chegar no lugar que eu pouco liguei. Saí perguntando pra
todo mundo na rua a casa (ou mansão, sei lá) da família Zimmermann. Até que a achei.
A casa era grande. Juro por mil bolachas recheadas. A garagem, enorme, estava
aberta, mas em tudo havia um tom sóbrio. Aproximei-me e vi Débora, no canto da
parede, com um vestido cor-de-rosa, uma coroa que ficou meio brega. Senti-me numa
festa de ABC. Ao fundo, bem baixinho, tocava alguma música do CD novo da Christina
Aguilera.
Ela chorava muito. O rosto apoiado nas palmas das mãos. A festa estava ainda toda
arrumada. O bolo de três andares ainda não havia sido mexido, assim como as garrafas
de vodca com limão. Olhei no relógio: nove da noite. Ninguém viria. Estavam todos no
baile funk.
— Você está bem? — perguntei. Débora virou o rosto e percebi que ele estava
manchado de maquiagem escura.
— Não. Choro porque gosto, emagrece. Agora sai daqui, Lucas. — ela virou o rosto
para a parede novamente, pegou uma garrafa de ice e bebeu alguns goles.
— Mas Déb... — tentei insistir, até ela interromper. Interromper de uma forma louca.
Descontrolada.
Débora se levantou, mas antes quebrou a garrafinha de bebida. Com o gargalo,
ameaçou cortar meu pescoço.
— Você é surdo ou o quê, hein, Lucas? Eu já mandei você sair daqui, porra!
Deu um ADP na Débis (ataque de pelanca – você já assistiu a esse filme né? Diz que
sim =/) que ela começou a jogar tudo em cima de mim. Tipo aquele bolo de três andares.
Fiquei coberto de glacê cor-de-rosa.
— SAI DAQUI, SEU VERME SUJO! SAI! SAI! SAI!
Ela largou no chão o gargalo, e eu, para acalmá-la, abracei-a. Débis se debateu
em meus braços. Mas eu fiz força. Aguentei seu choro, sua birra de patricinha forever
alone.
— Ninguém gosta de mim... eu... eu sou uma idiota que acredita em qualquer coisa.
— disse ela, já mais calma. Desmaiou em meus braços.
დ
VIII – MAS QUE FIM DE SEMANA!
E você? Faria o quê se estivesse no meu lugar? Não sabia o que fazer. Fiquei sem
reação na hora. Débora ali, desmaiada nos meus braços! Cuidei em fechar os portões da
garagem e levá-la para dentro de sua casa.
Ela continuava em meus braços. Carreguei-a para dentro da residência, tentei
chamar por alguém, mas parecia que seus pais haviam saído. Caminhei mais alguns
passos e preparei-me para colocar Débora em cima do sofá (e, abrindo aqui uma
observação, que sofá!) quando ela abriu os olhos e quase deu um grito ao me ver.
— Acho que você passou mal, Débora. Mas não esquenta, já tô saindo. Vou te
deixar em paz. — falei, deitando-a no sofá e virando as costas para saída.
— Só você quem veio, não foi, Lucas? E nem foi convidado. Obrigada. De coração.
Demorou uns trinta segundos até cair a ficha de quem tinha dito aquilo foi mesmo
a Débora. Ela, grata por alguma coisa? Estava bêbada. Com certeza. Preferi não olhar
para trás e prosseguir.