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Capítulo 7

Continua no próximo capítulo 

Mamãe e papai insistiram muito para que eu dissesse onde eu havia passado a 
noite, mas achei melhor fingir que estava dormindo e pensar que, quando eu acordasse, 
todos haveriam esquecido do fato. Acontece que minha mãe é xereta, e com razão. Eu 
nunca havia passado uma noite fora.
— Lucas, abra a porta agora! Exijo uma explicação. — dizia ela, do lado de fora do 
quarto e batendo muito na porta, quase esmurrando.
— Calma, Karen. Um dia o LUCAS vai ter que sair do quarto. NÃO É LUCAS? Vamos, 
amor. — disse meu pai.
A barra estava limpa e  assim pude passar o domingo no quarto. Pensava na Débora, 
pra variar, e em como foi mágico tudo aquilo que aconteceu no telhado. Será que eu 
tinha alguma esperança?
X – MEDIDAS DRÁSTICAS
—  Mãe. Decidi que vou pegar o meu caminho. Quero sair de casa. Seguir meus 
sonhos. 
Dona Yanna Dantas, mãe do Júnior, sofreria agora com a síndrome do ninho vazio. 
O garoto estava mesmo disposto a sair de casa. Abandonar os “paparicos” das irmãs, da 
mãe e da avó e sair por aí.
—  Como assim, filho? Não, não, você não vai! E seus estudos? E eu, e suas irmãs, 
Júnior?
—  Eu vou ficar bem. E a senhora, a vovó e as meninas também.  —  Júnior se 
aproximou da mãe e pousou as duas mãos nos ombros de Yanna. —  Por favor, não chora. 
Eu só vou seguir os conselhos que papai me dava quando era vivo. 
Yanna então retirou as mãos do filho de cima dos seus ombros e virou de costas. 
Lembrou de quanto o marido aconselhava Júnior a sempre seguir os seus sonhos, sejam 
eles o que forem. 
Quando aquela jovem viúva e mãe de família se virou para o filho novamente, ele 
já estava com a mochila nas costas. A mão, acenava. Seu corpo na  porta, uma  hora 
estático, deu meia volta e saiu. Júnior decidiu então encontrar o mundo.  Sabia dos 
perigos que passaria, mas aquele era apenas um dos sonhos da sua lista.  Já poderia riscar 
o primeiro tópico. 
დ 
No meio do meu  sono-forçado-eterno-de-domingo,  meu celular tocou. Vi que era 
o meu amigo Júnior e achei sensato atender. Fazia muito tempo que nós não nos 
falávamos. Achei até que ele estivesse com raiva de mim, e por isso ele poderia estar 
precisando da minha ajuda.
— E aí, velho, tudo bom? 
—  Lucas, cara. Eu saí de casa. Você pode vir até aqui, eu preciso me despedir de 
você. — disse ele, do outro lado da linha. 
— Onde é que você está?

Por amizade a gente faz qualquer coisa. Amigos como o Júnior eu tinha poucos, e 
estava prestes a perder. Claro, eu apoiava o que ele iria fazer, porém, um aperto no 
coração fazia com que eu pedisse para que ele voltasse para sua casa. 
Meus joelhos e cotovelos ficaram ralados quando, por desespero, fiz uma teresa 
para saltar a janela do meu quarto com maior precisão e esta não aguentou o peso do 
meu corpo. Mas que se ferrasse, nem senti dor. Saí correndo em direção à igreja do nosso 
bairro, onde Júnior me esperava.
Ao encontrá-lo, abracei meu amigo e, depois de tanto implorar que ele ficasse, 
percebi que ele estava irredutível.
— Eu não resolvi isso de uma hora para outra, Lucas. É pelo meu pai. Ele queria que 
eu fosse feliz. E eu só vou ser feliz quando eu realizar tudo, tudo o que eu gostaria de fazer. 
Todos os meus sonhos. Se você não me apoiar, eu vou entender. Mas vou partir mesmo 
assim.
—  Então, se é isso o que vai te fazer feliz, vai. Mas manda notícias.  —  apertei sua 
mão direita e nela deixei umas economias minhas. 
— Não, velho. Eu não posso aceitar.
— Leva essa grana. Você vai precisar mais do que eu. Boa sorte.
— Boa sorte também, Lucas. Obrigado por tudo.
Júnior sorriu e, em seguida, deu de costas, saindo da igreja e tomando o seu 
caminho. Que ele encontre a felicidade.

Os “pés de quinze  para as três” da diretora da minha escola, Dona Ruth, calçados 
em um par de sandálias ortopédicas,  faziam um barulho  descomunal, típicos das chatas 
segundas-feiras do colégio.
Havia um clima de luto. Parecia que Júnior havia morrido, e não era isso o que tinha 
acontecido. Sua  mãe, Yanna, fora a primeira a chegar na escola e contar a situação à 
Dona Ruth. Esta, então, decidiu suspender as aulas  a semana toda  e mandar  a galera 
para casa. Como dizem os cearenses:  gaiata!  Corrupta que só o  caralho, ela só queria 
um motivo, pífio que fosse, para não trabalhar.  Dona Ruth só havia esquecido de uma 
coisa: Júnior não havia morrido, apenas fora embora de casa.
Os alunos do terceiro ano então, nem pareciam pré-vestibulandos. Acredite ou não, 
eu, mesmo ainda sem saber qual faculdade  tentaria no final do ano, estava indignado 
com tamanha cara de pau da nossa diretora.
Quanto à Débora, esbarrei com ela naquele dia. Ela me disse oi, eu respondi, e 
depois não a vi mais. Também, toda a galera havia ido embora. Eu fiquei ali, pl antado na 
escola, perambulando pela biblioteca, e depois, falando com o pipoqueiro, Sr. Lauro.
—  O senhor acredita que a diretora está se aproveitando da saída do Júnior de 
casa pra suspender as aulas? — falei ao Sr. Lauro. Eu gostava de conversar com ele.
—  Nossa, senhora.  —  chegou o momento de ouvir as lorotas que ele gostava de 
inventar — Aconteceu isso comigo na minha juventude. Ah, bons tempos, menino Lucas! 
—  O que aconteceu com o senhor? A diretora era cara de pau assim como a Dona 
Ruth?
—  Ih, pior. Ela roubava  o dinheiro da merenda escolar. Não tinha. E sabe o que eu 
e os meus colegas fizemos? Colocamos tachinhas na cadeira dela... Foi muito engraçado. 
— Sr. Lauro riu. E eu, bolaria um plano bem pior..

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