Capítulo 8
Clara acordou ás sete horas da manhã, desceu á cozinha e pegou uma maçã vermelha e a mordeu. Sentou-se na cadeira e pegou uma revista de noivas e começou a folhear as páginas.- Tudo seria perfeito se a minha filha estivesse viva.
- Outra vez falando da menina, Clara? – perguntava Mariana sentando-se na cadeira e “roubando” a revista das mãos da sobrinha.
- Tia, eu sou mãe. Se você fosse, saberia do que estou falando.
- Eu também sou – dizia sem perceber o que acabara de falar
- Você teve um filho, Mariana?
- Não. Eu quis dizer que você é como uma filha pra mim – responde nervosa deixando Clara um pouco confusa
Bianca está em seu escritório. Estela dorme tranquila e ela começa a reler seu primeiro livro, publicado há três anos.
E dentro dele, há uma foto de Bruna e Bianca com aproximadamente cinco anos.
- Você pode ter errado na vida, Bianca. Mas nada irá fazer com que eu te odeie. Onde quer que você esteja, lembre-se que nunca irei esquecer-me de você.
“Com uma amiga chegamos a um tal ponto de simplicidade ou liberdade que às vezes eu telefono e ela responde: não estou com vontade de falar. Então digo até logo e vou fazer outra coisa.” Clarice Lispector
Bianca se identificava com aquela frase. O laço de amizade entre elas era algo inexplicável. Não cabia ninguém a criticar os atos da médica. Nem mesmo ela.
Carolina está no quarto, dormindo. Já eram quase sete e meia da manhã. O dia estava perfeito para ela dormir até tarde, mas um som não a deixava dormir. Na verdade, era um rit. Joaquim estava com a câmera ligada, vestido como se fosse a uma entrevista de emprego e começou.
As palavras saiam meio estranhas, fazendo Carolina morrer de vergonha do namorado. Por fim, o menino desligou a câmera e assistiu ao vídeo. Estava completamente sem sentido.
- Você vai ficar muito famoso – disse ao namorado – Com essa música, ganhará muito dinheiro.
- Vou apresentar este vídeo á Globo.
Carolina não conseguiu segurar o riso, e começou a dar gargalhadas exageradamente.
- Qual motivo da risada? Podemos ficar ricos.
- Ricos? Você vai passar pela maior humilhação da sua vida.
Um pouco chateado, Joaquim saiu da sala e ligou o carro. Saiu em disparada, deixando Carolina um tanto culpada.
Paloma e Roberto estão na cama, nus, mas cobertos pelo lençol macio e branco. Ao acordar, a mulher olha para o relógio que marca oito horas da manhã. O homem acorda logo em seguida, e beijou a esposa, que se levantou e começou a tocar delicadamente nos seus seios grandes.
- Você disse que tinha uma coisa para me falar. Do que se trata?
- Eu quero que antes de tudo, você nunca esqueça a filha que teve com a Clara.
Roberto fica sério.
- Não importa o que aconteça: a Sophia será para sempre a sua filha. E eu tenho outra surpresa para você. Lembra que a gente foi ao motel? A camisinha estourou e... – Paloma pegou as mãos de Roberto e as botou em seu seio
- Você está grávida?
- Sim. Uma menina. De seis meses.
- Então era por isso que você estava gorda. Eu não vou esquecer-me da Sophia, mas eu quero ser feliz ao seu lado.
No hospital, Antônia assinava alguns papéis. Entra a secretária, que deixa cair alguns papéis e eles se molham por uma goteira que há na sala. A mulher tenta manter a calma
- Por favor, saia da minha sala.
- Desculpe senhora. – disse quase escorregando na poça d’água. – Com licença.
Antônia pegou a carta que estava em sua mesa e a leu. Era um recado de Rodrigo convidando-a para jantar
- Como eu queria. Mas não posso. – diz rasgando a carta e a jogando na lata de lixo
O dia passou rápido. O vídeo que Joaquim gravou de manhã estava na internet e passara de quase quinhentas mil visualizações, além dos comentários maldosos.
O garoto chegou próximo das oito da noite, horário em que Carolina estava conversando com a direção da Rede Globo, convidando Joaquim a apresentar-se no programa do Caldeirão do Huck.
- Sim. Estaremos aí. Obrigada, Tchau.
- Com quem você estava falando?
- Não interessa. Amanhã iremos viajar e você irá gravar o programa do Huck.
- Por quê?
- O seu vídeo já tem quase seiscentas mil visualizações. Tá famoso!
Joaquim não acreditava no que Carolina falara.
- Amanhã será o grande dia, minha filha. O dia que você irá se casar com o Vitor. Está feliz? – era a pergunta de Marta que fazia um cafuné na cabeça da filha
- O Vitor é o garoto mais perfeito do mundo. Eu queria voltar no tempo e impedir aquele turbilhão de acontecimentos. Infelizmente ela morreu.
- Filha, por quê você não pede um exame de DNA? Talvez não seja a sua filha. No avião tinha muitas pessoas, talvez o bebê seja de outra família.
- Você está dizendo que...
- Não estou dizendo nada. Mas pode ser que sua filha esteja viva.
- Saber que a minha filha não morreu fará de mim a mulher mais feliz do mundo, mesmo não estando perto.
- Vamos focar no futuro. Você convidou a Paloma para o casamento?
- Sim, mamãe. Convidei o Roberto também. Quero que eles saibam que estou feliz e que devem seguir a vida deles.
Antônia está sentada na cadeira, lixando suas unhas compridas pintadas com uma tonalidade avermelhada. Rodrigo está no meio de uma ligação com Marta, mãe de Clara.
- Então estamos autorizados a realizar o exame? Muito obrigado, dona Marta. Disponha. – disse colocando o celular no bolso – O resultado sairá daqui uma semana, certo? – perguntou a Antônia que continuava a lixar suas unhas
- Sim. E poderá mudar a vida da Clara por completo. É o dia do casamento dela.
- Se a criança estiver viva, esse será o nosso presente.
- Nosso? Você quer dizer seu. Eu sou casada.
- Casada? – perguntava gaguejando
- Sim. Ignácio é meu marido!
Rodrigo ficou um pouco envergonhado e sem graça.
Uma semana havia se passado. Clara estava no salão de beleza fazendo o cabelo, unhas e maquiagem. Ela estava completamente linda e nem o fato da ‘morte’ de sua filha a faria entristecer.
- Está pronta, Clara.
O vestido de noiva de Clara era branco e tinha um enorme véu. Ela calçou os saltos altos e abraçou a mãe, que lhe entregou o buquê junto com uma caixa enfeitada por um top.
- O que é isso, mãe?
- Abra.
Clara abriu. Ela leu: “Diário da mamãe”.
- Dentro desse diário você poderá escrever tudo o que sente. E se ela estiver viva e você a encontrar, pode entregar á ela.
As duas abraçaram-se e a moça caminhou ao carro, totalmente emocionada.
Rodrigo abriu o envelope do exame. Os dois estavam prontos para o casamento de Clara.
- E então? O que diz o resultado, Rodrigo?
- Não posso dizer agora. Estamos atrasados. Vamos?
Tudo ocorreu perfeitamente bem. Clara dizia sim ás palavras do padre, e Vitor repetia o mesmo.
O casamento terminou com um belo beijo entre os dois. Rodrigo, um dos padrinhos do casamento, entregou á Clara um envelope.
- O que é isso?
- Infelizmente não poderei comparecer á festa. Mas isso lhe surpreenderá.
Carolina e Joaquim estavam no avião. O garoto repetia o mesmo rit de sempre, e fazia a namorada ter ataques de risos.
- Guarde sua voz para amanhã, meu bem. Você irá precisar. E muito.
- Será que eu ganho dinheiro?
- Isso depende de você. Só de você.
Não demoraram muito para Joaquim e Carolina chegarem, e irem ao Projac. O garoto foi ao camarim, onde foi se arrumar para a gravação. O tempo inteiro ele repetia o rit doido dele.
Ao entrar no “Caldeirão do Huck”, as fãs gritavam por seu nome, e outras segurando cartazes “JOAQUIM, VEM PRA MINHA CASA!”. Carolina se mordia de ciúmes, mas não podia fazer muita coisa.
- E aí, cara? Sabemos que você ficou famoso por cantar uma música um pouco diferente. Teve mais de um milhão de visualizações. Como se sente? Você postou o vídeo pela manhã e durante a noite a nossa equipe ligou convidando você a cantar. Topa mostrar seu talento?
Joaquim não respondeu. Pegou o microfone e começou:
Feijão, gatão, cachorrão...
É assim que se trata um
Malucão!
Feijão, gatão, cachorrão...
É assim que se trata um
Malucão!
Em menos de uma hora, Joaquim e Carolina preparavam-se para voltar para casa.
No aeroporto, um homem o abordou:
- Ei, você não é Joaquim?
- Sim.
- Sou empresário. Você pode ganhar uma grana alta caso trabalhar comigo. Os shows demoram uma hora aproximadamente. E aí? Topa?
- Ele topa, moço. Obrigada.
O homem entregou seu cartão e saiu. Carolina sorriu.
Em casa, Clara olhava o envelope e não sabia o que tinha dentro dele. Vitor estava ao lado dela.
- Abra o envelope, Clara. Tá esperando o quê?
- E se for uma notícia ruim? Vai acabar com a magia do casamento.
- Não vai ser Clara. Confia em mim e abra o envelope.
Clara abriu o envelope, e leu, tentando descobrir do que se tratava.
- É o exame de DNA, Vitor.
- E o que ele diz?
Clara não respondeu, apenas fixou seus olhos ao resultado do exame. Uma lágrima molha o papel.