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Capítulo 8

Continua no próximo capítulo 

A escola continuava deserta, porém o carro de D. Ruth ainda estava no 
estacionamento.  Corri até a sala da diretoria e lá estava ela, tomando café (como 
sempre), fumando já o provavelmente quinto Malboro da carteira e, claro, com uma 
caixa de chocolates em mãos. As pernas esticadas, apoiadas em cima da mesa 
compunham o cenário horroroso. Deu vontade de vomitar.
Peguei meu celular e liguei para o Ígor (pra quem não lembra, um dos caras metidos 
a valentão da minha escola). Pedi que ele fosse até lá e, com ele, trouxesse um amiguinho 
muito especial, que a D. Ruth ficaria super feliz em conhecê-lo.


(Música: 130 anos – Agridoce)
Júnior Dantas saiu de dentro do beco fétido onde passara a noite. Dormira ali, 
naquele local  úmido, fazendo  a mochila de travesseiro e temendo gastar com 
hospedagens todo o dinheiro que eu havia lhe dado.
Ele precisava sair dali, encontrar um abrigo mais seguro e começar a riscar cada 
tópico da sua “lista de sonhos”, cuja estava escrita em um pedaço de cartolina velho, 
dobrado e guardado em sua carteira, logo atrás do cartãozinho do CPF. 


~LISTA-DE-SONHOS-DO-JÚNIOR~
1. Sair de casa;
2. Saltar de asa delta;
3. Pular de bungee jumping
4. Dirigir um carro maneiro numa estrada deserta; (lembrando que eu não tenho idade para isto, 
ainda)
5. Conhecer o Japão, e, se possível, a moça que faz a voz do Pikachu;
6. Embarcar no próximo Titanic

Quando Ígor Cipriano chegou à  escola, meia hora  depois de eu ter ligado para ele, 
senti uma imensa vontade de lhe encher de porradas, mas lembrei que ele tinha o dobro 
da minha altura, e toda a burrice e valentia do mundo. Trazia consigo uma caixa, e nela, 
a chave para a minha vingança (haha).
— Trouxe o Brutus? — perguntei ao Ígor, tentando pegar a caixa da sua mão. 
— Ei, velho. Espera aí, o que você vai fazer com o meu Brutus?
Ígor Cipriano fazia questão de gritar aos quatro pontos cardeais da escola que era 
homem com “H” maiúsculo (e daí?), mas perto de Brutus, seu ratinho de estimação, ele 
derretia como manteiga na frigideira quente.
Bom, Brutus não era exatamente um ratinho. Ígor dizia a todos que ele era limpinho, 
e que o achou em um ninho debaixo do fogão da sua  imunda  casa. Venhamos e 
convenhamos, era um gabiru de esgoto. E muito sortudo. Ígor cuidava do seu “ratinho de 
estimação” mais do que cuidava de si mesmo: dava banho, alimentava, até cuidava de 
sua  beleza, tipo cortava as unhas, essas coisas. E o amor era recíproco: bastava Ígor 
chamar, que Brutus vinha, como um cachorrinho.
—  Não, Ígor. Não vai acontecer nada. Eu só quero dar uma liçãozinha na diretora. 
— respondi.
— E por quê?
Achei melhor não falar que eu era contra o “estado de luto” que ela havia 
decretado. Só tomei o ratinho da mão dele e caminhei até a diretoria.
E lá estava D. Ruth, com suas pernas ainda esticadas em cima da mesa e fumando 
o seu cigarro. Assistia à novela mexicana da tarde e gargalhava à toa.
—  Ui, nem acredito que vou ficar uma semana livre daquelas pestes.  —  dizia ela, 
agora mastigando um pedaço de Chokito.  —  E assim, eu vou poder ver o meu gatinho 
hoje. 
Ruth largou a caixa de chocolates e pôs o cigarro no cinzeiro. Pegou o notebook e 
começou a trocar assuntos com um homem.  Enquanto eu não soltava o Brutus em cima 
da velha, percebi que eu não era o único a mentir em redes sociais. A foto do perfil do 
Facebook de Dona Ruth era de uma moça estilo panicat. Resumindo e não entrando em 
detalhes, ela conversava com um cara que achava que ela tinha 30 anos e 30  quilos  a 
menos. 
Resolvi entrar de supetão e interromper a conversinha online da diretora:
—  D. Ruth, a senhora esqueceu de mandar a coroa de flores pra casa do Júnior
Dantas!
A gorda quase pôs o coração pela boca. Fechou rapidamente o notebook, e 
estendeu a mão, apontando para a saída:
— Sr. Lucas Batista, ponha-se daqui para fora já!
— Só quando a senhora me der os pêsames por eu ter perdido o meu amigo.
— Ma.. mas ele morreu mesmo..? Espera aí, ele não morreu!
—  Há! Te peguei! Te peguei, sua velha bandida! Ele não morreu, e a senhora sabe 
disso. E o colégio só pode estar em estado de luto se alguém morrer, não é verdade?  —
encarei-a. 
—  Quem liga? Quando algum professor falta vocês comemoram. Eu dei férias à 
vocês. Ok? 
— Que se foda! Falta pouco para o vestibular e eu EXIJO que tenha aulas. — retirei 
o rato Brutus do meu bolso e mostrei à Ruth. Ela começou a se tremer de medo.


XI – RATOS ASSASSINOS
Não sei por que cargas d’água a dona Ruth pegou um crucifixo e ficou apontando 
para o rato Brutus.  O coitado era que deveria estar com medo, e com toda a razão do 
mundo.
— Ei, tia, é um rato, não é um vampiro não!
—  Lucas, menino, pelo amor de Deus, tira essa catita daqui! Tira, por favor!  —  a 
diretora se escondeu embaixo da mesa — eu retomo as aulas, se é isso o que você quer.
Soltei o Brutus e ele correu em direção à velha. Ela bateu a cabeça na mesa umas 
duas vezes antes de conseguir tirar as suas toneladas de lá e assim correr pra fora da sala. 
E o Brutus? Ah, ele correu atrás dela como um cão feroz corre atrás de um gato ladrão.
Vocês precisavam ver a cena da gorda correndo pelo pátio enquanto o rato a 
perseguia. Ígor apareceu e chamou Brutus, que foi para o seu bolso. Infelizmente. 
—  Lucas Batista, assim que as aulas forem retomadas eu vou tomar providências 
sérias contra você. — disse ela, ofegante.
— Vai fundo. — desafiei. — Tô me mijando de medo.
E fui embora.
9° CAPÍTUL

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