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Capítulo 9

Continua no próximo capítulo 

(Música: Agridoce – 130 Anos)


Júnior já havia andado muito. Conseguira uma carona com um caminhoneiro (por 
favor, nem todo caminhoneiro é tarado, e essa história já está clichê demais para isso) e 
saíra do Nordeste, em direção à Minas Gerais. Estava convicto em riscar o segundo tópico 
de sua lista de sonhos.
Saltar de asa delta não é uma tarefa fácil, começando por procurar por achar um 
lugar para se realizar esta ação. Ora, quando você está focado em algo que se deseja 
muito, nada é impossível.
“Estou tão longe de casa! Sinto muitas saudades, carrego aqui apenas uma foto 
comigo. Uma foto da minha família. Acho que este é o meu maior tesouro. Papai deve 
estar feliz, pois acho que estou fazendo a coisa certa, seja lá onde ele estiver. “,  refletia 
ele.
XII – SEI QUE É ALTO, MAS VOU PULAR
(Música: Agridoce – 130 Anos)
O jovem aventureiro sonhador pesquisou em algumas listas telefônicas, foi em 
algumas Lan Houses pesquisar na internet, fez de tudo para procurar algum instrutor que 
pudesse lhe proporcionar a realização do sonho de saltar de asa delta. Júnior comia tão 
pouco quanto um chinês para economizar a grana que eu havia lhe dado, juntamente 
com alguns trocados que ele já tinha.
—  Não deve ser muito caro  —  pensou alto, subindo uma pequena serra, onde, a 
cada passo, dava para se ver jovens aventureiros que  se jogavam ao infinito, sentiam o 
vento no rosto e se viciavam no disparo de adrenalina que tudo aquilo lhes 
proporcionava.
EU TAMBÉM QUERO ISSO! pensava ele, correndo em busca de um instrutor.
— Custa R$200,00. Pagamento à vista.
Tamanha era a empolgação de Júnior que ele nem sequer lembrou que tinha 
apenas cento e cinquenta reais. Poderia até pedir ao instrutor que desse um desconto, 
mas ficaria sem dinheiro algum.
— E aí, vai ou não?
— Eu... eu não tenho essa grana toda. — disse ele, cabisbaixo.
— Então... acho que eu não posso te ajudar.
O homem saiu, mas Júnior correu e ficou na sua frente. 
—  Me ajuda moço. Eu vim de longe, esse é o sonho da minha vida. Me ajuda, por 
favor! 
Júnior chorou, esperneou como um bebê chorão. Sair de perto da saia da  mãe não 
garantia que ele abandonasse tais artimanhas para conseguir algo. Tanto que o homem 
acabou deixando.


(Música: Transmissor – Bonina)
Eu não consegui que as aulas voltassem, tampouco me livrar das perguntas dos 
meus pais, que continuam a querer saber onde eu havia passado a noite naquele final de 
semana. Gostaria de dizê-los que foi uma das noites mais felizes da minha vida, pois havia 
passado com a Débora Zimmermann, cuja eu estava começando a acreditar que era a 
garota da minha vida (ah, vá), mas preferi evitar uma mão na cara educacional, que só 
mamãe, Dona Karen, sabia dar.
— Sem internet até contar onde você esteve. — disse meu pai.
—  Isso mesmo, Ricardo. Ai de você, ai de você, Lucas, se chegar perto deste 
computador. Eu não criei filho pra passar a noite fora sem dar satisfações.
Eu poderia mentir, dizer que estava na vigília de uma igreja, ou sei lá, desmaiei num 
canto qualquer no meio da rua e não quis dar trabalho, falta de inspiração não era. Mas 
tipo, meu foco ainda era encarar a Dona Ruth, que estava curtindo o “luto” decretado 
pra sair com os tarados “internáuticos” dela. Era esse o ponto onde eu iria cutucar.

—  Preparado, Júnior?  —  perguntou o instrutor. Júnior fez um sinal positivo com a 
mão. O instrutor correu pela pequena pista. Júnior estava agarrado em sua cintura. Uma 
câmera os filmava numa espécie de capacete que ele tinha.
Júnior só se tocou que estava a milhares de metros de altura quando já estava a 
milhares de metros de altura (faz sentido isso?). Ou seja: estava chorando, mas não de 
emoção, e sim de medo. 
XIII – COGUMELOS ALUCINÓGENOS
Júnior Dantas passou a maior parte do tempo que estava no ar rezando e de olhos 
fechados. O instrutor ria, parecia estar até curtindo o sofrimento do garoto. Até que ele 
abriu os olhos.
— Se acalmou? — perguntou o rapaz instrutor — É normal sentir isso. Agora curte aí.
Júnior então pôde se encantar com a linda paisagem; estava achando o máximo 
tamanha sensação de liberdade.  Quando finalmente pousou, estava extremamente 
arrependido por não ter aproveitado mais a viagem de asa delta.
─ Mas já? 
─ Já, ué. ─ o instrutor entregou então a câmera para Júnior ─ quando tiver grana 
de novo, aparece por aqui.
E saiu.

Agora, para dar uma lição da diretora Dona Ruth (momento Paola Bracho) eu 
precisaria de algo melhor do que  o rato Brutus do Ígor. Talvez eu mexesse em um ponto 
mais fraco dela. Algo que ela nunca pudesse esquecer. 
Fui olhar as atualizações no Facebook, depois de tanto tempo estudando e 
arquitetando planos mirabolantes, os quais nenhum me apetecia. Um post de um colega 
nosso  da escola, chamou minha atenção. Aristofo Rodrigues, que gostava de ser 
chamado de Arizinho (claro) postou o seguinte status: “Acabei de ver a diretora da nossa 
escola, Dona Ruth, nos maiores amassos com um deus grego no shopping. Filha, se não tá 
fácil pra você, tu só pode estar com sérios problemas. Até a diretora?! ~risada malefika~”
Arizinho era gay assumido. Pelo menos depois que o seu pai o deixava na porta do 
colégio. Dentro do carro, eu percebia que o guri não dava um pio, imagino que talvez 
em casa também. Depois que ele ia embora, Arizinho tirava a roupa, dançava, fazia o 
quadradinho de oito e não estava nem aí para que os outros pensavam.
Ele, assim como eu e vários outros alunos da nossa escola, odiava a diretora. E era 
a ele que eu pediria ajuda.  Talvez ele tivesse alguma maldade de novela mexicana em 
mente. 
 

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