top of page

Capítulo 1

O silêncio é um amigo que nunca trai

CENA 1.FLASHFOWARD

 

FADE IN

 

A câmera mostra as águas azuis de um lago, a tranquilidade é interrompida com um carro que cai violentamente no local e rapidamente afunda. Podemos observar a mão de uma pessoa, branca, batendo nos vidros do carro, tentando sair. 

 

FADE OUT

Alguns dias antes... 

 

CENA 2. STOCK-SHOTS.

Noite. Cenas do Pão de Açúcar. Ao som de Rehab- Amy Winehouse| 2007 

 

CENA 3. ESTÁDIO. NOITE

O estádio está lotado, os fãs vão a loucura com as músicas cantadas por Juan.

CORTA PARA

 

CENA 4. ESTÁDIO. CAMARIM.INTERIOR.  NOITE

Vilma está sentada em uma cadeira, sozinha no camarim, olhando atentamente para si. Raul abre a porta, e fica encostado.

RAUL: (Supreso)- Opa, o que é isso? Pensando em fazer plásticas? Parece que você não está gostando do que vê no espelho.

VILMA: Não seja imbecil.

RAUL: Eu te conheço amorzinho. Alguma coisa você fez pra ficar assim, com peso na consciência.

VILMA: Ah Raul, não começa com essas suas suposições infernais. O que tem demais eu me olhar no espelho. Todo mundo faz isso.

RAUL: Eu não me refiro ao fato de você se olhar no espelho. Me refiro ao seu olhar. Um olhar de culpa.

VILMA: Culpa? Eu não fiz absolutamente nada!

RAUL: Sei... Você está ouvindo né? Os gritos dos fãs enlouquecidos. Tem até fã com tatuagem no braço...

VILMA: São uns idiotas. Só servem para colocar dinheiro no meu bolso.

RAUL: Não deixe o Juan ouvir você falando isso, ele adora os fãs dele.

VILMA: Ele está ocupado agora, garanto que não ouvirá. E o faturamento?

Raul senta em um sofá, que está atrás da cadeira onde Vilma está sentada

RAUL: Muito além do que esperávamos...

VILMA: Isso é muito bom. Afinal, ele é nossa galinha dos ovos de ouro.

RAUL: E assim será até que ele morra.

VILMA: Eu espero que ele viva por um bom tempo.

CORTA PARA

 

CENA 5. AVENIDA CARIOCA. INTERIOR. NOITE

Um ônibus para em um ponto, e dele desce Elizabeth e Cássio. Eles sobem um morro, conversando, rumo ao bairro onde moram.

ELIZABETH: Nossa, as aulas hoje foram super cansativas.

CÁSSIO: Eu também, não via a hora disso tudo acabar.

ELIZABETH: Amanhã o Juan deve aparecer lá em casa. Você já sabe né? Tem que me dar cobertura.

CÁSSIO: Bete... Me diz uma coisa. Como é namorar uma pessoa tão famosa quanto ele? Você não sente ciúmes quando outras garotas o idolatram?

ELIZABETH: Não Cássio, por incrível que pareça. Eu não conheci o Juan em um show, quanto cantava, eu o conheci como uma pessoa comum. Quando vejo as meninas, ou até mesmo adultas o idolatrando, é como se não fosse o meu Juan, o meu namorado. Não sei se você me entende.

CÁSSIO: Eu não sei se conseguiria ter esse mesmo pensamento. Mas tudo bem. Cada um é cada um...

ELIZABETH: Vou confessar que detesto quando as revistas de fofoca falam mal dele (Risos)

CÁSSIO: O que as revistas mais fazem é isso...

ELIZABETH: Já chegaram a dizer que ele é gay. Acredita nisso? (Risos)

CÁSSIO: (Risos)- Nem sempre ser famoso, é bom.

ELIZABETH: Pois é. Em certas circunstâncias eu fiquei quase dois meses sem falar com ele. Ele fez uma turnê no nordeste uma vez, e depois fez outra turnê em outro país. Uma loucura. Tem que ter paciência...

CÁSSIO: Bota paciência nisso

CORTA PARA

 

CENA 6. ESTÁDIO. CAMARIM. INTERIOR. NOITE

Vilma continua olhando para si mesma em um espelho. Com um olhar de culpa, medo. Vilma não se move, até o telefone tocar. Ela atende.

VILMA: Alô... Você fez o que eu pedi? (T). O Raul jamais pode saber disso (T). Eu já te entreguei o cheque, agora finja que eu nunca existi, pelo  seu próprio bem.

Vilma desliga o telefone, com as mãos tremendo e chorando, deixa cair no chão. Ela continua olhando para a sua própria imagem no espelho, desta vez, com lágrimas nos olhos.

CORTA PARA

 

CENA 7. STOCK-SHOTS

Cenas do trânsito carioca

CORTA PARA

 

CENA 8. ESTÁDIO. CAMARIM. INTERIOR. NOITE

Juan está sentado em sua cadeira no camarim. Exausto. Raul entra.

JUAN: Parece que faz séculos que não durmo.

RAUL: E vai ter que ser assim por um tempo Juan.

JUAN: O que? Mas Raul, acontece que

RAUL: (corta)- O que é isso Juan, não estou entendendo você. Sempre fizemos a mesma quantidade de shows há uns 5 anos. Por quê isso agora? Tá cansado de shows? Você diz amar seus fãs

JUAN: Eu amo os meus fãs. Mas isso não é motivo pra eu dormir apenas 4 horas por dia. Eu quero ter minha vida de volta, poder fazer as coisas que quero.

RAUL: Cantar, é uma coisa que você quer.

JUAN: Tem certeza disso? Será que, é eu que quero, ou é você e a Vilma que querem?

RAUL: Não tem como cancelarmos esses contratos. É falta de responsabilidade, comprometimento. Falta de ética, com os seus fãs. Já está assinado, e eu não posso fazer nada!

JUAN: Você é advogado, pode romper esses contratos. Se tiver multa, nós pagamos.

RAUL: (Gritando)- Não podemos desperdiçar dinheiro com isso, seu moleque.

JUAN: O dinheiro é meu, e eu decido o que faço com ele. Se eu quiser te demitir, eu te demito. Ouviu bem? Você é meu empregado, não é meu pai.

Juan se levanta da cadeira

JUAN: Boa noite pra você, que dorme quando quer, até a hora que quer, e ainda fatura milhões.

Juan sai deixando Raul sozinho no camarim

RAUL: Moleque imbecil!

CORTA PARA

 

CENA 9. AVENIDA CARIOCA. DIA

Juan está vestido de palhaço. Ele anda pelas ruas fazendo malabarismo com bolinhas pequenas. As pessoas o observam, e debocham de sua roupa, e de sua atitude, sem imaginar que se trata de um cantor muito famoso.

 

CENA 10. CASA DE ELIZABETH. COZINHA. INTERIOR. DIA

Elizabeth está sozinha em sua cozinha, que é pequena, porém organizada. Ela está fazendo café antes de ir trabalhar, quando escuta o barulho de alguém batendo na porta. Ela sai da cozinha, passa na sala e abre a porta.

JUAN: Sou eu, o palhaço mais lindo da face da terra.

ELIZABETH: Alguém te viu entrar aqui?

JUAN: Creio que não, mas se viram vão logo comentar que você tem palhaços em sua casa. Do jeito que o pessoal aqui é fofoqueiro.

Elizabeth puxa Juan

ELIZABETH: (Rindo)- Entra rápido bobão...

Juan entra, tira o chapéu e dá um beijo em Elizabeth

JUAN: Sabe, eu cheguei até aqui fazendo malabarismo. Acredita que as pessoas riam da minha cara?

ELIZABETH: Eu já imagino o que aconteceria se elas soubessem quem é o palhaço bobão.

JUAN: Eu fico até chateado em saber como a sociedade é hipócrita. Eles veneram pessoas que não conhecem, que apenas veem pela televisão.  E desprezam aqueles que estão em seu lado. Imagina as pessoas que fazem isso pra ganhar dinheiro?

ELIZABETH: A sociedade é preconceituosa e fofoqueira... Mas não vamos falar disso. Vamos aproveitar o pouco tempo que temos. Daqui a pouco tenho que pegar aquele ônibus lotado de pessoas que não usam desodorante pra trabalhar.

JUAN: (Rindo)- Meu Deus, um desodorante é tão barato.

ELIZABETH: É... Diga isso a eles. Vão me fazer um bem danado. Mas pra isso vai me recompensar daqui a alguns anos.

JUAN: Faltam só alguns aninhos pra você abrir a agência de viagens “Elizauan”.

ELIZABETH: (Rindo)- “Elisauan”? Que nome patético! De onde você tirou isso?

JUAN: É uma fusão de Elisabeth com Juan... Vai fazer sucesso, pode escrever

ELIZABETH: (Rindo)- Ah, só você mesmo.

Juan abraça Elizabeth

ELIZABETH: Seu bobo...

CORTA PARA

 

CENA 11. MANSÃO DE VILMA. SALA DE JANTAR. INTERIOR. DIA

Vilma chega á mesa. Raul já está lá, sendo servido por Joana, a empregada da casa.

VILMA: Você tem o péssimo hábito de não me esperar pra tomar o café.

RAUL: E desde quando existe isso entre nós? Não começa com essas frescuras de mulher, por favor.

VILMA: Não são frescuras. Marido e mulher fazem isso. Se você não sabe. (P/JOANA) Onde está o meu filho?

JOANA: Senhora, eu já arrumei o quarto dele, parece que ele saiu cedo, de novo.

RAUL: Esse garoto só pode ser um retardado. Até ontem ele reclamou comigo que não conseguia dormir, que estava exausto, e hoje levanta e saí cedo?

VILMA: Ele tem feito isso com frequência. Vou te dizer uma coisa Raul, é bom ficarmos de olho no Juan.

RAUL: Ontem ele me disse coisas, que nunca disse antes nesses cinco anos de convivência conosco.

VILMA: O que ele te disse?

Raul olha para Joana, Joana olha pra Vilma.

VILMA: (P/JOANA)- Saia daqui agora, antes eu jogue essa jarra de suco nessa sua cara feia com rugas. Anda. Vá!

JOANA: Tudo bem senhora, com licença.

VILMA: Empregada abusada!

RAUL: Ele me disse que queria reduzir os contratos, as turnês, o show, e ainda cuspiu na minha cara, que o dinheiro é dele.

VILMA: Ele disse isso a troco de nada? Falou por falar?

RAUL: Isso de “O dinheiro é meu”, ele disse quando eu falei que teríamos que pagar multa pela rescisão dos contratos.

VILMA: E ele acreditou?

RAUL: Parece que sim, ele sempre acredita. Nunca imaginou que os contratos não existem.

VILMA: Você já pensou na possibilidade de uma pessoa ter colocado isso na cabeça dele?

RAUL: Que pessoa? Ele só tem proximidade comigo e com você.

VILMA: Não sei não. Isso está me cheirando a alguma fã vagabunda que ele deve ter se envolvido. Você sabe, o que o Juan mais tem, é fãs desse nível.

RAUL: Pode ser, isso explicaria as saídas dele.

VILMA: Se tiver, acabo com ela e com qualquer outra que possa aparecer.

RAUL: O que você vai fazer?

VILMA: Calma, que você verá. Tenho que ter certeza primeiro que se trata de um romance. Se for isso, garanto que não vai pra frente. Não vai ser por causa de uma vadiazinha qualquer que o Juan vai nos desfiar. E você sabe muito bem, que se ele quiser nos mandar para o olho da rua, ele pode. E nada vamos poder fazer.

RAUL: Ele não pode fazer isso.

VILMA: E não vai fazer. Te garanto!

CORTA PARA

 

CENA 12. APARTAMENTO DE ANGÉLICA. SALA. INTERIOR. DIA

Miguel aparece na sala do apartamento de Angélica. Ele estranha que além de sua filha Thays de 8 anos, tem um menino um pouco mais velho, e negro sentado á mesa.

MIGUEL: Tatá, quem é esse garoto?

Luiz o menino, observa Miguel com um olhar curioso

THAYS: Não sei papai, eu acordei ele já estava aqui. Eu perguntei pra ele o nome dele, mas ele não respondeu.

MIGUEL: E onde está a sua mãe?

THAYS: Saiu, disse que voltava rápido.

MIGUEL: Quem é você moleque? De onde você veio?

Luiz continua olhando nos olhos de Miguel

MIGUEL: O que? Você é mudo? Quem é você? De onde você veio?

O menino permanece calado

 

CENA 13. CASA DE SHREK. SALA. INTERIOR. DIA

Shrek desce as escadas de sua casa, que está uma bagunça, com roupas, cuecas e meias espalhadas pelo chão. Mesinha de centro completamente suja de refrigerante e pizza, além do sofá, completamente sujo com farelos de salgadinhos. Da escada, ele observa a sujeira, ainda com cara de sono

SHREK: Que merda é essa que eu fiz ontem? Que droga!

Devagar ele desce as escadas, e aos poucos vai pegando as roupas que estão no chão.

 

CENA 14. CASA DE SHREK. EXTERIOR. DIA

Shrek sai para fora de casa, com pijama para jogar colocar o lixo na lixeira. Uns meninos brincam de bola em frente a sua casa.

MENINO: Olha gente, o ogro saiu da toca.

MENINO 2: Ele vai nos pegar

MENINO: (Rindo)- Sai daqui ogro fedido.

SHREK: Meu nome não é Shrek, é Márcio. E fedidos são vocês, que não sabem como usar um papel higiênci,  deixam as cuecas sujas pra mamãe lavar. Bando de idiotas.

Shrek dá as costas para as crianças e entra dentro de casa

 

CENA 15. CASA DE SHREK. SALA. INTERIOR. DIA

SHREK: Meu Deus, me dê forças para aguentar esses moleques todos os dias!

Shrek continua organizado a sala, que está uma bagunça.

 

CENA 16. MANSÃO DE VILMA. SALA. INTERIOR. DIA

Vilma está na sala, quando um dos seguranças chega acompanhado de Joana. Vilma está sentada no sofá, com as pernas cruzadas, lendo uma revista de famosos.

VILMA: Muito obrigado por trazê-lo até aqui Joana, pode se retirar.

Joana fica parada olhando para o segurança

VILMA: (Gritando)- Sai inferno! Vai limpar a vidraça do meu quarto que está uma sujeira. Serviço aqui, não falta. Anda...

JOANA: Tudo bem senhora, desculpe.

Joana se retira

VILMA: Muito bem, como você se chama?

EVARISTO: Me chamo Evaristo senhora.

VILMA: Muito bem Evaristo. Eu sei que todos vocês são amigos do Juan, mas eu quero te perguntar uma coisa, e espero que você me responda com sinceridade.

EVARISTO: Pode perguntar senhora.

VILMA: Você sabe para onde o Juan vai todas as manhãs ?

EVARISTO: Não sei senhora, não tenho essa informação para fornecer.

VILMA: Você sabe Evaristo. Senti que você sabe e me esconde. Ao meu lado você vai sair muito mais beneficiado do que do lado dele.

EVARISTO: Não entendi senhora.

VILMA: Quero dizer que, se você vigiar o Juan, eu te dou o triplo do seu salário. Uma espécie de recompensa. Garanto que o Juan não demitirá. Ele não saberá.

EVARISTO: Não sei se devo aceitar. Isso não é certo.

VILMA: Não é certo? O Juan é como se fosse o meu filho. Crio ele desde quando a mãe dele faleceu. Você acha errado uma mãe querer o bem do filho. Você tem esposa, filhos?

EVARISTO:  Sim, tenho sim senhora.

VILMA: Justamente por isso, pense bem na minha proposta. Eu conto com você pra proteger o meu filho...

EVARISTO: Mas senhora, é que...

VILMA: (Corta)- Mas nada Evaristo. É essa a minha proposta. E eu espero que você aceite.

Vilma levanta do sofá

VILMA: Alías, isso que conversamos não sairá daqui. Estamos entendidos?

EVARISTO: Sim, claro.

VILMA: Pode se retirar...

Evaristo se retira da sala.

CORTA PARA

 

CENA 17. CASA DE ELIZABETH. SALA. INTERIOR. DIA

Elizabeth está sentada no sofá, Juan está deitado em seu colo, ela faz carinho no namorado, enquanto eles conversam.

ELIZABETH: Se você se sente sufocado com tudo isso, tem que colocar um ponto final.

JUAN: Eu sempre digo a mesma coisa, mas eles se negam.

ELIZABETH: Eles não podem decidir sobre você assim. Você é quem dá as cartas. Sem o seu sucesso, não tem o salário deles. E como você mesmo disse, você é o patrão deles.

JUAN: Mas vivo com eles desde que minha mãe morreu. É difícil enfrentá-los assim.

ELIZABETH: Eles não podem decidir sobre você assim amor. É direito seu viver uma vida tranquila e menos cansativa.

JUAN: Hoje a noite. Eu falarei com eles hoje a noite.

ELIZABETH: Faz bem. O direito você tem. Basta correr atrás.

JUAN: Obrigado, prometo que irei fazer isso.

Elizabeth e Juan se beijam

CORTA PARA

 

CENA 18. APARTAMENTO DE ANGÉLICA. SALA. INTERIOR. DIA

MIGUEL: Não vai me dizer garoto? O  que você faz aqui? Anda.

Angélica, a jovem esposa de Miguel,  entra com sacolas

ANGÉLICA: O que é isso Miguel?

MIGUEL: Quem é esse garoto Angélica? Eu pergunto as coisas pra ele, ele não responde. Só fica me olhando. Quem é...

ANGÉLICA: (Corta)- É o meu irmão Miguel

Miguel fica surpreso

MIGUEL: Seu irmão? Como assim?

ANGÉLICA: Tatá minha filha. Vá para o seu quarto e leva o Luiz.

TATÁ: Tudo bem mamãe. Vem tio Luiz...

Luiz vai com Tatá para o quarto

MIGUEL: Luiz? O que significa isso?

ANGÉLICA: Eu já te disse, ele é meu irmão.

MIGUEL: Você nunca me falou que tinha um irmão.

ANGÉLICA: Eu tenho um irmão, e ele vai morar comigo. Ele é filho adotivo do meu pai e vou cuidar dele a partir de agora. Decidi tirar ele do colégio interno. Vai ser bom, conviver com outras pessoas.

MIGUEL: Ele é um desconhecido, nem falar ele fala.

ANGÉLICA: Ele tem problemas psicológicos Miguel. Tenha um pouco de senso, largue esse preconceito de lado. Não te contei por quê não achei conveniente. Agora você já sabe.

MIGUEL: Bom, é mais uma boca pra eu sustentar?

ANGÉLICA: Não. Eu vou pagar tudo pra ele.

MIGUEL: Com o dinheiro do seguro do seu pai.

ANGÉLICA: Não. Não vou mexer naquele dinheiro. Eu já te disse isso milhões de vezes. Vou educar  e criar o Luiz, com o meu próprio trabalho. E espero que você não se oponha Miguel.

MIGUEL: Não meu amor, não vou me opor. É a sua família, mesmo que não seja de sangue.

ANGÉLICA: E quem disse que pra ser família precisa ser de sangue. Você tem o meu sangue por acaso? Olha Miguel... Vou fazer o café aqui, acho que já passou da hora de você ir trabalhar...

MIGUEL: Claro meu amor, você é quem manda.

Miguel entra no quarto

 

CENA 19. APARTAMENTO DE ANGÉLICA. QUARTO DE ANGÉLICA. DIA. INTERIOR. DIA

Miguel tranca a porta do quarto, e com raiva puxa os lençóis da cama.

MIGUEL: Maldita! Mil vezes maldita... Toda droga de mulher é assim? Esse moleque vai atrapalhar os meus planos.

 

CENA 20. STOCK-SHOTS

Cenas do Cristo Redentor. Anoitece- 

 

CENA 21. MANSÃO DE VILMA. SALA DE JANTAR. INTERIOR. NOITE

Vilma e Raul já estão sendo servidos, e Juan chega.

JUAN: Preciso conversar com vocês dois.

VILMA: Sobre... ?

JUAN: Sobre os meus shows cansativos.

VILMA: Alías, se prepare por que temos um show agendado para amanhã, ás 17h.

JUAN: Eu quero diminuir o ritmo de shows. Isso me faz mal.

VILMA: Faz mal? Faz mal em que sentido?

JUAN: Em todos os sentidos, eu não posso ter uma vida pessoal, se eu sair na rua, milhares de fotógrafos vão me filmar, tirar fotos do que faço. Sem contar que sou alvo de fofocar dos jornalistas, mentiras. Não posso ter uma vida pessoal do jeito que imaginei. Estou exausto dos shows, não durmo direito e tenho ficado estressado a cada dia que passa.

VILMA: Você arrumou alguma namorada Juan? Por que nesse tempo todo que você canta, nunca reclamou da quantidade de shows, dos fotógrafos, dos fãs, dos jornalistas.

JUAN: Acontece Vilma que uma hora ou outra nos cansamos disso tudo.

Os trovões assustam Raul e Vilma

RAUL: Olha, vai chover hein. Isso tudo por que o Juan resolveu desistir da carreira.

JUAN: Eu não desisti da minha carreira Raul, só quero ter minha vida pessoal de volta. Quero morar sozinho, ter minha mulher, meus filhos, meus amigos. Sem que um fotografo me persiga.

VILMA: Vai ser assim até quando você morrer meu querido.

JUAN: Não se eu sumir do mapa Vilma...

Juan se retira da sala de jantar

RAUL: É melhor você descobrir o que está acontecendo logo, antes que ele cometa uma loucura.

VILMA: Calma, eu sou uma só. Já fiz a primeira parte do combinado. Agora é esperar.

 

CENA 22. STOCK SHOTS

As ruas do Rio de Janeiro estão alagadas. Trânsito congestionado.

 

CENA 23. ÔNIBUS. INTERIOR. NOITE

Elizabeth e Cássio estão em pé, dentro de um ônibus parado e lotado.

ELIZABETH: Ah eu to cansada de ficar aqui dentro desse ônibus, com esse cheiro insuportável de quem não toma banho.

CÁSSIO: Calma, que isso vai passar. Você não vai querer sair nessa chuva vai?

ELIZABETH: Estamos perto de nossas casas. É isso mesmo que eu vou fazer.

CÁSSIO: Elizabeth, você ficou louca.

ELIZABETH: Oh motor, abre a porta aí. Vou descer.

A porta de fundo do ônibus se abre. A rua está completamente alagada.

gCÁSSIO: O que você vai fazer, é perigoso.

ELIZABETH: Dane-se, quero chegar rápido na minha casa.

Elizabeth desce do ônibus e se surpreende ao colocar os pés no chão e se dar conta que a água está quase na altura de sua cintura.

Elizabeth anda com dificuldade. Cássio continua dentro do ônibus observando Elizabeth

CÁSSIO: Volta pra cá Elizabeth, sua maluca.

ELIZABETH: Vamos Cássio, não seja medroso. Depois trocamos a roupa. (Risos)

CÁSSIO: Não brinca com isso.

ELIZABETH: Tudo bem, eu vou sozinha.

Elizabeth, sem se dar conta, pisa em um buraco e começa a se afogar. 

"Acho que essas enchentes ocorrem por um único motivo: a falta de profissionais na área de engenharia. Se os que construíram a cidade fossem mais qualificados, sem dúvidas, faria algo bem mais feito, como: uma rede de esgoto melhor. E quanto à minha família, graças a Deus, isso nunca ocorreu. Sei lá, deve ser muito triste você acabar vendo tudo - Ou algumas coisas da sua casa - sendo levadas pela correnteza. Nunca passei por isso e espero nunca passar. "

 

William Araújo Lopes, amigo. 

Continua no próximo capítulo

Significado: 

FLASHFOWARD- É  uma forma de apresentar ao telespectador da série um momento futuro ao que está na corrente apresentação do programa.

bottom of page