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– Mas que merda, até quando vai ler esta porcaria?! – a voz de David arrancou minha atenção da reportagem que estava lendo.

A manchete em destaque dizia “Desastre Juvenil” em letras garrafais sobre uma imagem de uma garota loira boiando na piscina com seu vestido branco longo agora tingido de vermelho pelo sangue que se dissolvia na água. Isabel...

– Até quando eu me cansar seu imbecil! O que você tem haver com isso? – eu repliquei asperamente.

David era um cara alto e rude, que só tinha como qualidade músculos que lhe possibilitaram uma vaga na faculdade, contanto que ele ganhasse o campeonato para eles. Graças a deus aquele imbecil estava se formando, pois não sabia quanto tempo mais eu iria agüentar sua babaquice de homem das cavernas. Honestamente ele só prestava para festas. Ah sim aquele imbecil era ótimo para agitar festas. Seus bolsos sempre estavam bem equipados com cigarros de todos os tipos, balinhas e garrafinhas de tudo quanto era bebida.

– Você não cansa de se deliciar não é? – ele disse com um sorriso idiota voltando-se para frente da TV de plasma onde estava jogando boxe no seu Wii – admito, ainda dou boas risadas vendo essa merda.

– Foi divertido no fim das contas – murmurei enquanto encarava uma foto preta e branca de Isabel – mas que desperdício... Teria sido legal ter um pouco mais de tempo... Mas eu odeio frio, e ela estava gelada.


David riu como um ogro, enquanto sacudia seus punhos no ar e acertava seu oponente virtual.

– Você é muito exigente, esse é o seu problema! – A voz de Rob ecoou da cozinha, acompanhado da risada nasal de Marcie. Ótimo aqueles dois estavam profanando a cozinha agora... Malditos hormônios, eles mais pareciam dois cachorros no cio.

– E você seu filho da mãe é um tarado asqueroso – eu rebati em voz alta e tudo que recebi de volta foi uma risada maliciosa e um gemido feminino.

– Qual é, você vai encontrar outra pra se divertir – David disse distraído – loirinha como essa tem de montes, e menos teimosas...

– Você acha que eu não sei?

– E pensar que aqueles tiras imbecis ainda nos pediram depoimentos... “você por acaso viu algo suspeito entre à hora do assassinato?” – ele imitou a voz do tira que havia nos interrogado – “você por acaso sabe se ela tinha algum inimigo ou namorado?”. Cara como eles são idiotas.

– Acho que a medalha de ouro vai para Marcie e sua interpretação de atriz mexicana aos prantos no funeral.

– Pode crer – David riu em concordância – aliais, fizeram uma restauração boa no defunto né? Cara ela tava gostosa naquele caixão.

– Você é doente – resmunguei voltando-me ao jornal de quatro dias atrás.

– Ah qual é, é só uma necrofilia inofensiva – ele resmungou no exato momento que nocauteou seu rival.

Uma explosão irrompeu o ar ao nosso redor, fazendo a casa vibrar agourentamente. As janelas se sacudiram em suas molduras por alguns segundos e quando o silencio se fez presente a energia caiu. Todas as lâmpadas se desligaram, assim como a TV e o rádio, e estando no meio da noite isso não era algo muito agradável. Em um salto eu me pus de pé, os olhos arregalados tentando enxergar alguma merda naquela escuridão.

– Mas que bosta! Eu havia acabado de ganhar o campeonato! – ouvi a voz de David rugir furiosa a poucos metros de distancia.

– Que merda foi essa? – perguntei mais alto do que pretendia.

Ficamos em silencio por alguns instantes os ouvidos tentando captar qualquer porcaria de som. Foi enquanto que uma luz dourada cortou a escuridão, vindo da porta que levava a cozinha. Um Rob rabugento e uma Marcie descabelada vieram com passos cautelosos até nós, trazendo consigo a potente lanterna de acampar de David.

– O que vocês aprontaram?

– Nada seu idiota – David se defendeu com os punhos erguidos, ainda segurando os controles do vídeo game.

– Deve ter sido a caixa de energia. Deve ter dado algum curto circuito ou sei lá.

– Ótimo, já que você se mostrou tão perito no assunto, que tal tratar de ir dar uma olhada – disse Marcie em sua voz nasal.

– Se você esta com tanto medo do escuro assim porque não vai resolver?! – rebati acidamente, Deus como ela me irritava.

– Eu como medo?Eu adoro o escuro, é muito mais divertido de fazer...

Capítulo 6

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