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Seja lá o que Marcie estava disposta a dividir conosco - o que certamente não deveria ser nenhuma novidade, já que sabíamos de todo os desejos e preferências daquela vadia rodada – foi interrompido por um novo som. Ouvimos com clareza a maçaneta da porta de entrada, ao fim do corredor ser girada e sacudida violentamente, ouvimos os chutes contra a madeira e o suspiro de impaciência. Marcie gemeu estranhamente, como um filhotinho de pato acuado. Rob resmungou um “que merda” e David em silencio saiu tateando pelos cantos atrás da cômoda onde havia escondida em uma de suas gavetas o revólver para emergências. Como um trovão em menor escala, ouvimos a maçaneta ser girada com força e arrancada da porta. Um novo pequeno trovão fez voar a porta para longe das dobradiças. Isso provocou um grito apavorado de Marcie que se agarrou nos braços de Rob.

– Me larga – ele disse sacudindo ela para longe com dificuldade. 

– Vejam só todos em casa – uma voz suave, doce e tranqüila veio da porta agora arrombada – hoje é mesmo meu dia de sorte.

Como que por algum feitiço maldito todos congelaram. Aquela voz soou como gelo através do ar, se infiltrando em nossos ouvidos e espalhando-se por nossos corpos, congelando-nos de medo. Aquela voz era familiar.

– Quem diabos é você?! – David foi quem se livrou daquele encanto sombrio primeiro, finalmente encontrando a cômoda e arrancando o revólver de dentro dela. Pude ouvir ele engatilhar a arma.

– É assim que vocês recebem uma velha amiga? – droga eu conhecia aquela voz...

– Seja útil nesta vida seu merda, aponta a lanterna pra lá! – David sussurrou raivosamente para um embasbacado Rob que ainda tentava se livrar de uma chorosa Marcie. Ofendido com as palavras de David, Rob resolveu se fazer útil e quase chutou Marcie para longe, esta desorientada acabou caindo aos pés de Rob entre soluços e palavrões. Livre do ataque de pânico imbecil de Marcie, Rob apontou a lanterna para a porta arrombada. E congelamos novamente.

Ali, perfeitamente ereta em uma postura despreocupada vestindo o mesmo vestido branco que roçava em seus joelhos, que havíamos visto ela usar em seu enterro. A feixe de luz dourada iluminou seu corpo magro e pálido, refletiu em seus cabelos loiro platinados e revelou seu rosto. Oval e fino, com olhos estreitos por um sorriso sombrio e cruel de lábios carmim. Isabel...

– Vamos nos divertir? – ela perguntou com uma risada diabólica que vez todos os meus ossos tremerem

– Mas que diabos... – Rob cuspiu as palavras enquanto dava alguns passos para trás e tropeçava em uma Marcie horrorizada que chorava copiosamente.

O infeliz acabou por cair, tirando assim o foco de luz da criatura na porta. Os flashes dos disparos de David me permitiram ver o vulto pequeno à porta. Foram três aos todo. Ela não se moveu, embora fosse claro que os tiros haviam lhe acertado. Pelo contrario, ela apenas riu.

– Então você vai ser o primeiro – ela disse conforme andava calmamente para dentro de nossa republica.

– Sonho seu sua desgraçada! – mais disparos ocorreram, sem nenhum resultado. Ela continuou a avançar imperturbável.

– Eu adoro um desafio...

– Merda – eu resmunguei correndo desastrosamente ao lado do sofá e tateando o chão até encontrar o taco de beisebol esquecido ali.

Quando eu me ergui e voltei a procurar entre o mar de sombras, notei o vulto já na boca do corredor, praticamente dentro da sala. Rob havia acabado de conseguir se levantar, mas ainda estava ocupado tentando se livrar das mãos de Marcie que se agarravam as suas pernas. O vulto de repente se tornou ágil, desapareceu da boca do corredor e em instantes estava a meio caminho de David, que continuou estupidamente a atirar, até que suas balas acabaram.

– Minha vez – a criatura chamada Isabel cantarolou.

Capítulo 7

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